Com FIFA conivente, altitude extrema e gramados sintéticos põem em risco a integridade dos atletas
- Roberto Maia
- há 20 horas
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Por Roberto Maia
Ontem, mais uma vez, presenciei um espetáculo que deveria ser proibido no futebol profissional. O jogo entre as seleções da Bolívia e do Brasil em El Alto, próximo a La Paz, foi disputado a impressionantes 4.100 metros de altitude – uma condição que beira o desumano para atletas não aclimatados. Como alguém que já esteve duas vezes em La Paz, posso afirmar categoricamente: a sensação é terrível. O ar rarefeito causa enjoos, dores de cabeça intensas e uma falta de ar constante que torna qualquer atividade física um martírio.

A vantagem da seleção boliviana fica gritante quando observamos os adversários literalmente andando em campo, mal conseguindo correr devido aos efeitos da altitude extrema. É uma distorção grotesca da competição esportiva, transformando o que deveria ser uma disputa técnica e tática em uma luta pela sobrevivência física. A FIFA já proibiu jogos acima de 3.000 metros em 2007, mas voltou atrás menos de um ano depois, demonstrando uma lamentável falta de consistência em relação à saúde dos atletas.
A Bolívia está invicta há 14 jogos desde que passou a mandar partidas em El Alto, um dado que escancara como a altitude extrema desequilibra completamente as competições. Não é mérito técnico, é abuso da condição geográfica. O aproveitamento boliviano cresceu drasticamente desde que saiu de La Paz (3.600m) para El Alto (4.090m), provando que estamos diante de uma vantagem antidesportiva.
Enquanto não tivermos uma tragédia em campo – e torço para que isso jamais aconteça –, a FIFA continuará fazendo vista grossa para essa situação perigosa. É uma questão de tempo até que um atleta tenha problemas cardíacos graves ou entre em colapso devido ao esforço extremo nessas condições. A entidade máxima do futebol precisa ter coragem de impor limites rígidos de altitude, priorizando a integridade física dos jogadores acima de interesses políticos e econômicos.
Mas os problemas com a conivência da FIFA não param por aí. No Brasil, enfrentamos outro dilema que vem ganhando destaque: os gramados sintéticos. Jogadores como Memphis Depay e Neymar têm se manifestado publicamente contra o uso desses campos artificiais, alegando que "mata o jogo" e aumenta significativamente os riscos de lesões graves.
Embora alguns estudos sugeriram que gramados sintéticos não aumentam significativamente o risco de contusões, jogadores relatam maior desgaste físico e desconforto. A experiência prática dos atletas que vivenciam essa realidade diariamente deveria pesar mais do que estatísticas questionáveis. Neymar já declarou publicamente que não gosta de jogar em campos artificiais, e sua posição é respaldada por inúmeros colegas de profissão.
O que mais me incomoda é a postura passiva das autoridades futebolísticas diante desses problemas evidentes. Seja permitindo jogos em altitudes que comprometem a saúde dos atletas, seja tolerando superfícies de jogo que alteram a dinâmica do esporte e potencialmente causam mais lesões, a FIFA e as confederações locais parecem mais preocupadas com aspectos comerciais do que com o bem-estar dos protagonistas do espetáculo.
É hora de cobrarmos uma postura mais firme dessas entidades. O futebol deve ser disputado em condições que priorizem a segurança, a saúde e a equidade competitiva. Altitudes extremas e gramados inadequados não deveriam fazer parte do futebol profissional moderno. Enquanto isso não acontecer, continuaremos assistindo a distorções que mancham a beleza do esporte mais popular do mundo.

Roberto Maia é jornalista e cronista esportivo. Escritor e editor do portal travelpedia.com.br