A dança das cadeiras não para e técnicos continuam sendo demitidos no Brasileirão 2025
- Roberto Maia
- há 2 dias
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Por Roberto Maia
Quando me sentei para analisar os números do Campeonato Brasileiro deste ano, não pude deixar de sorrir ironicamente. Em 2021, a CBF implementou uma regra que limitava as trocas de técnicos a apenas uma por clube durante toda a competição, na tentativa de criar "uma relação mais madura e profissional". Quatro anos depois, estou aqui observando 16 demissões em apenas 21 rodadas, e a sensação é de que voltamos ao ponto de partida – ou talvez nunca tenhamos saído dele.

A ironia é gritante. Rogério Caboclo, então presidente da CBF, havia prometido que a medida permitiria "trabalhos mais longos e consistentes". Hoje, vejo Renato Paiva sendo demitido do Fortaleza após apenas 10 jogos, com míseros 20% de aproveitamento. É quase como se o futebol brasileiro tivesse uma alergia crônica à paciência.
O que mais me chama atenção é a velocidade dessas mudanças. Mano Menezes foi o primeiro a cair, logo na estreia do Fluminense contra o Fortaleza. Desde então, testemunhei uma sucessão de demissões que incluiu nomes experientes como Cuca no Atlético-MG, que saiu mesmo com o time classificado para as quartas da Copa do Brasil e Sul-Americana. A derrota por 2 a 1 para o Cruzeiro nas quartas da Copa do Brasil foi o estopim, provando que no futebol brasileiro, um resultado ruim pode apagar meses de trabalho.
Alguns casos me impressionam pela brutalidade. António Oliveira durou apenas quatro jogos no Sport, com aproveitamento de 8%. Fábio Carille foi vaiado insistentemente no Vasco antes de sua demissão, mesmo mantendo o time invicto em São Januário. E o que dizer da goleada de 8 a 0 que o Flamengo aplicou no Vitória, selando o destino de Carille? São números que expõem não apenas a fragilidade dos projetos, mas a cultura do imediatismo que permeia nosso futebol.
O mais preocupante é observar que clubes como Santos, Sport, Juventude e Vitória já trocaram de técnico duas vezes cada um. O Santos, por exemplo, demitiu Pedro Caixinha após três jogos sem vitória e posteriormente Cléber Xavier, que havia trabalhado anos como auxiliar de Tite. A falta de continuidade cria um ciclo vicioso: sem tempo para implementar suas ideias, os técnicos acabam reféns de resultados pontuais.
Por outro lado, quando olho para os casos de estabilidade, vejo a exceção que comprova a regra. Abel Ferreira no Palmeiras, próximo de completar cinco anos no cargo, é um alienígena em nosso cenário. Sua permanência, respaldada por títulos e trabalho consistente, mostra que a continuidade pode funcionar – quando há projeto e paciência institucional.
A média histórica de 22 trocas por temporada desde 2003 nos lembra que este não é um problema exclusivo de 2025. É uma característica endêmica do nosso futebol. Em 2010, chegamos ao absurdo de 30 mudanças; em 2012, o "melhor" ano registrou 16 trocas. Estamos caminhando para repetir ou superar esses números.
A reflexão que me fica é sobre o custo dessa instabilidade. Além do óbvio desperdício financeiro com rescisões e novas contratações, há o prejuízo esportivo. Como esperar evolução tática ou desenvolvimento de jovens talentos quando a base do trabalho muda constantemente? É como tentar construir uma casa trocando o arquiteto a cada mês.
Enquanto escrevo estas linhas, sei que provavelmente mais técnicos cairão até dezembro. A pressão do rebaixamento e a busca por vagas na Libertadores continuarão alimentando essa roda-viva. E aí me pergunto: quando vamos aprender que futebol se constrói com tempo, não com pressa?

Roberto Maia é jornalista e cronista esportivo. Escritor e editor do portal travelpedia.com.br