Corrigindo o que estava certo
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Corrigindo o que estava certo

Por Fernando Jorge

O ombudsman Luiz Garcia cometeu muitos erros ao criticar os textos dos seus colegas de O Globo. Vou mostrar alguns, em diversas edições desse jornal.


Gritante erro ou tontice do ombudsman na edição de 6-5-2003 de O Globo, ao criticar um colega: o nome "pneumonia asiática" deve ser considerado "perigoso, causador de preconceito étnico”. Besteira, não é nada perigoso e nem causa preconceito étnico, toda a nossa imprensa tem usado esta expressão, até o próprio matutino onde o senhor Luiz bancava o magister dixit da língua portuguesa.


Erro do Luiz Garcia na edição de 10-5-2003: ele disse que é incorreto escrever a frase “ofende o princípio da isonomia, artigo quinto da Constituição”. O correto, para o Luiz, é assim: “o princípio da isonomia, estabelecido no artigo..." Estava certíssima a frase, o colega do Luiz usou uma elipse, figura de sintaxe pela qual se omite um termo da oração, e até uma oração inteira, subentendida no texto...


Erro do Luiz Garcia na edição de 16-5-2003: é imperdoável escrever “implicaram em punição”. Sustentou o ombudsman, outra vez, que como o verbo implicar é transitivo direto, o correto só pode ser deste modo: “implicaram punição” (sem o em). Luiz, aprenda, o verbo implicar é também transitivo indireto.


Recomendo, consulte o verbete desse verbo na página 326 do Dicionário prático de regência verbal, do professor Celso Pedro Luft, publicado em 1987 pela Editora Ática, no qual encontrará o seguinte exemplo: “tal procedimento implica desdouro (ou em desdouro) para você".


Erro do Luiz na edição de 17-5-2003: é incorreto escrever “abrandar a cúpula do PFL”, pois o correto é "acalmar a cúpula...” Luiz corrigiu o que estava certo, pois abrandar é sinônimo de acalmar. Eu pergunto ao ombudsman: quem o autorizou a limitar o vocabulário do seu colega, a impedir que ele empregue um sinônimo bem simples, corriqueiro, do verbo acalmar? Quem foi? Deus? Maomé? Buda? Osama Bin Laden? Sadam Hussein? Marta Suplicy?


Erro do Luiz Garcia na edição de 23-5-2003: é incorreto escrever "pedindo mais paciência de Alencar” Não é incorreto coisíssima nenhuma, estava certo! Do alto das suas tamancas de sábio da Grécia, o mestre de Zeus, de Adônis, de Vulcano, de Afrodite, de Minerva, a deusa da sabedoria, asseverou que o correto é “mais paciência a Alencar”. Decore isto, Luiz: podemos pedir mais paciência de alguém ou a alguém. Quer ver como o seu colega de O Globo não errou? Consulte o verbete paciência da página 262 do Dicionário de regimes de substantivos e adjetivos, de Francisco Fernandes, onde se vê que este substantivo feminino é também regido pela preposição.


Erro do Luiz Garcia na edição de 29-5-2003: é incorreto escrever "fez uma viagem para Nova York”. Na “abalizada opinião” dele o certo é assim: “viagem a Nova York”. Incrível! Estava absolutamente cor­reto! Um fulano viaja de um lugar a outro ou para outro. Fixe os seus místicos olhos enevoados, ò resplandecente, ò deslumbrante sábio Luiz Garcia, nesta frase da página 187 do romance O bem e o mal, do grande escritor Camilo Castelo Branco:


“... Vasco, em viagem para a pátria, morreu de febres”. (Edição da Organização Simões, Rio de Janeiro, 1955).


Exibi apenas um pequeno número da vasta quantidade de erros do Luiz Garcia. Rei do despautério, ele se atrevia a criticar as frases corretas dos jornalistas de O Globo, apontando nelas “erros” que não eram erros. Esses jornalistas não mereciam sofrer tal humilhação.


Fernando Jorge é jornalista, escritor, historiador, biógrafo, crítico literário, dicionarista e enciclopedista brasileiro, Autor de várias obras biográficas e históricas que lhe renderam alguns prêmios como o Prêmio Jabuti de 1962. É autor do livro “Eu amo os dois”, que acaba de ser lançado pela Editora Novo Século.

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