Por Fernando Jorge
Afonso II encerrou Tasso num hospício durante sete anos. O infeliz muitas vezes não tinha papel e penas para escrever. Faltava-lhe até a luz mortiça da candeia. É conhecido o soneto no qual ele suplica a um gato para lhe emprestar o fulgor dos seus olhos, pois assim talvez pudesse dissipar as trevas de sua prisão.
Baudelaire, o satânico, cantou as pupilas ardentes desses felinos, cheias de labaredas tétricas, com brilhos de areal e refulgências de ouro fino.
Ah, os poetas, os intelectuais, os refinados! Eis os maiores amigos e admiradores desse tigre pequeno e manso...
O bardo inglês Francis Thomson chorou ao encontrar a sua gata afogada num aquário, fato que nos faz recordar as copiosas lágrimas vertidas pelo nosso Bernardo Guimarães quando recebeu a notícia da morte do seu cavalo.
Batista Cepelos encontrava no gato um encanto superior ao das mulheres:
“Este vence a mulher – e portanto, à serpente –
Com seus botes gentis e seus gadanhos finos,
Que nos sabem ferir tão delicadamente
Como as flechas que vem duns lábios femininos...”
Georges Lecomte elogiava, no gato, a sua mobilidade silenciosa, a sua doçura, os seus estiramentos e langores, o seu ar de espreita.
A princesa Vitória Schleswig-Holstein foi apaixonada por esse carnívoro doméstico. Tinha vinte e seis gatos. Mandou construir para os seus amiguinhos, no parque do Castelo de Windsor, antes da guerra de 1914, uma casa própria, minúscula e proporcional. Era uma residência desmontável, a fim de assegurar o asseio dos compartimentos. O telhado e o primeiro pavimento podiam ser retirados como a tampa de uma caixa.
Fernando Jorge é jornalista, escritor, dicionarista e enciclopedista brasileiro. Autor de várias obras biográficas e históricas que lhe renderam alguns prêmios como o Prêmio Jabuti de 1962. É autor do livro “Eu amo os dois”, lançado pela Editora Novo Século.
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