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Trabalhar em casa contribui para o meio ambiente?

Por Cleonir Tumelero

Imagem: Freepik

A pandemia da Covid-19 tem demonstrado que o home office é tecnicamente viável e veio para ficar. Firma-se o modelo híbrido de trabalho remoto, na medida em que este permite o revezamento entre o trabalho em casa e na empresa, equilibrando qualidade de vida, produtividade e necessidade de interação social.


Atento às milhares de notícias (e fake news) sobre a pandemia que leio, vejo e escuto diariamente em todos os meios, uma delas me chamou a atenção: ela dizia que, além de inúmeros benefícios para as empresas, o home office contribui ainda para o meio ambiente. Essa afirmação trata-se de uma realidade complexa que precisa de análise crítica e mensuração científica. No centro dessa discussão estão, principalmente, energia, água, alimentação e mobilidade, justamente os recursos que mais causam lesão ambiental ao planeta.


De fato, é possível considerar que o home office acelerou a transformação digital, especialmente em digitização e digitalização de processos corporativos. Além de agilidade nos processos, houve diminuição do uso de papel e impressões. Também há que se considerar a menor mobilidade e, portanto, menor consumo de combustíveis. Ainda é possível considerar a menor necessidade por roupas e calçados novos.

Contudo, a realidade já dá alguns indícios de que o impacto do trabalho remoto no meio ambiente também depende do estilo de vida do colaborador. Se a rotina de trabalho está implicando em maior uso de recursos, como água e energia, então, o home office pode estar sendo uma prática menos sustentável se comparado ao trabalho tradicional na empresa. O mesmo é válido para a alimentação. Se houver aumento do consumo de alimentos industrializados, então é esperada maior geração de resíduos, especialmente plásticos, que também são predominantemente originados do petróleo.


Percebe-se, portanto, que estilo de vida e hábitos de consumo são elementos decisivos na análise do impacto do trabalho remoto sobre o meio ambiente. Diante disso, a empresa deve promover a sustentabilidade ambiental também no home office, uma vez que ocorre uma evidente transferência de responsabilidades sobre o uso de recursos, especialmente os já mencionados, como energia, água e alimentação. Deve, por exemplo, orientar a adequada disposição de móveis e equipamentos para o melhor uso de iluminação natural, o uso de embalagens retornáveis para aquisição de refeições, o consumo consciente de água, o consumo de serviços e produtos ofertados próximos à residência dos colaboradores, dentre outros possíveis comportamentos domésticos que ampliem a consciência sobre o consumo de recursos, como princípios do minimalismo, por exemplo.


Consciência sobre o consumo significa abandonar comportamentos automáticos e agir objetivamente nos chamados 3Rs (reduzir, reutilizar e reciclar), princípios basilares da sustentabilidade ambiental que também devem estar presentes nas práticas de toda empresa.


Este tempo, do novo normal do trabalho remoto, também é o tempo em que o planeta chega ao chamado ponto de não retorno da capacidade de autorrecuperação dos sistemas naturais. Sobram evidências científicas dessa possível realidade sem volta. Portanto, pesa sobre o colaborador a necessidade de transformar o seu escritório doméstico em um reduto ambientalmente sustentável, inclusive podendo contribuir com as letárgicas práticas de neutralização de emissões de carbono da grande massa das empresas globais.


Cleonir Tumelero, doutor em Administração, é professor dos Programas de Pós-Graduação em Administração e Gestão Ambiental da Universidade Positivo.

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