O Amor e Seus Fins investiga a desconstrução do modelo das relações amorosas e dos afetos
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O Amor e Seus Fins investiga a desconstrução do modelo das relações amorosas e dos afetos

Com direção de Fernanda Raquel, espetáculo conta a história de um casal que precisa reinventar os pactos de seu casamento

Imagem: Vitor Vieira

Quanto amor ainda cabe no fim de um casamento? E quando acaba, existem culpados? Existe uma forma certa de amor? Estas são algumas perguntas que nos vêm a mente quando assistimos ao espetáculo O Amor e Seus Fins, escrito e protagonizado por Cris Wersom e Rodrigo Scarpelli.


A obra, que surgiu de um desejo que Wersom e Scarpelli tinham de montar uma peça juntos desde que se formaram na EAD-USP, nos faz refletir o quanto o casamento como uma instituição capitalista e a concepção romântica do amor podem ser fatais para um relacionamento.


A trama do espetáculo acompanha um casal que decide se divorciar depois de 16 anos de um casamento aparentemente feliz. Uma mulher e um homem colocam o contrato na mesa, mas não conseguem assinar os papéis. Entendendo que o amor não foi suficiente para sustentar essa relação, começam um processo de desconstrução e rupturas. Conversam, dançam, brigam, riem e se humilham, num jogo angustiante de aproximações e distâncias. Tentam assim criar outras narrativas.


Com um texto agridoce e frases carregadas de sacarmos que só a dor do fim pode conter, a peça nos leva a perceber o quanto os casamentos podem ser moldados pelos anseios e expectativas do pais, avós, amigos, vizinhos. Todos estão engendrados num sistema fracassado, mas ainda assim, seguem reproduzindo os mesmos padrões. termina sem resposta, mas com a sensação de que, antes de se construir algo novo, ainda será necessário a constante desconstrução de um sistema que não se sustenta mais.


“Na pandemia, fizemos chamadas de vídeo para matar a saudade e líamos diferentes textos para nos inspirarmos. Lemos ‘Cenas de um casamento’, de Ingmar Bergman, e veio a grande pergunta: é possível se relacionar dentro do casamento de maneira saudável? Ficamos quase um ano pesquisando sobre o tema e tentando responder essa pergunta. Não sei se temos a resposta, mas encontramos interessantes paralelos entre o amor e suas finalidades dentro da sociedade”, revela Cris Wersom.


Rodrigo Scarpelli conta que nesses encontros muitos outros textos ajudaram a definir o que eles gostariam de investigar. “Há uns anos tentamos adaptar o conto ‘O Jogo da Carona’, de Milan Kundera, mas não conseguimos obter os direitos. Agora essa obra voltou às nossas leituras. Mas lemos também ‘Carta a D’, de André Gorz; ‘Dialética da Solidão’, do Antonio Paz; ‘Amor nos Tempos do Capitalismo’, de Eva Illouz; ‘Reinvenção da Intimidade’, de Christian Dunker; e muitos outros temas, textos, contos e ensaios que discutiam ou versavam sobre o amor/amar e serviram como grandes referências”, esclarece.


A encenação, de acordo com a diretora Fernanda Raquel, propõe um espaço de jogo que vai se configurando de diferentes maneiras ao longo da ação. “A separação entre o público e os atores é um tanto borrada. Aliás, gerar proximidades e distanciamentos – espaciais e simbólicos –, através das sonoridades, luminosidades e elementos cenográficos, tem sido a tônica do processo. A criação de perspectiva é uma prerrogativa também para a atuação. Não aderir completamente às personagens nos parece uma tática importante para tensionar o drama que eles vivem – e a própria estrutura dramatúrgica”, antecipa.


Amor e Seus Fins

Até 4 de dezembro

Sexta e sábado, às 20h. Domingo, 19h.

Rua Ana Cintra, 213, Santa Cecília

Ingressos: R$ 40 / R$ 20


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