Por Fernando Jorge

É, cheguei a esta firme conclusão: mães podem ajudar muito as filhas ou muito prejudicá-las.
Na época em que fui diretor da Divisão Técnica de Biblioteca da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, tornei-me colega de uma bela funcionária desse Poder. Ela e eu ficamos amigos. Um dia essa colega me disse:
– Fernando, estou com 25 anos e a minha mãe me deu um conselho absurdo, inaceitável. Veja, quer que me case...
Interrompi-a:
– E daí, por que é absurdo, inaceitável?
– Calma, Fernando, não conclui. Minha mãe deseja que me case com um homem mais velho...
Novamente a interrompi:
– É apenas uma sugestão de sua mãe.
– Não, não, Fernando, ela quer que eu me case com um homem de 80 ou 90 anos...
Fiquei surpreso e a minha colega prosseguiu:
– Quer que eu me case com um octogenário ou nonagenário muito rico e cardíaco, portador de pressão alta.
Exclamei:
– Meu Deus!
– Sabe por que me deu este conselho? Porque assim ele pode morrer logo e eu ficar com o seu dinheiro, imensa fortuna... Rejeitei o conselho, afirmando: mamãe jamais farei isto, em hipótese alguma. Você é um monstro.
Após ouvir as palavras da minha amiga, passei a achar que certas mães podem errar, falando com uma filha, ou silenciado, sem proferir qualquer palavra.
Forneço um exemplo, para o segundo caso. A francesa Vanessa Springora, no seu livro O consentimento, narra que quando tinha 13 anos foi estuprada e abusada sexualmente, durante mais de vinte anos, pelo escritor Gabriel Matzneff, de 49 anos. A própria mãe de Vanessa apresentou-a ao escritor pedófilo. E ao que tudo indica, silenciou, não abria a boca ou agia, com o objetivo de libertar a filha das garras do tarado.
Como descrevo no meu romance autobiográfico Eu amo os dois, lançado pela editora Novo Século, eu, Fernando Jorge, amei uma jovem e tive de largá-la, por causa de um mau conselho de sua mãe...

Fernando Jorge é jornalista, escritor, dicionarista e enciclopedista brasileiro. Autor de várias obras biográficas e históricas que lhe renderam alguns prêmios como o Prêmio Jabuti de 1962. É autor do livro “Eu amo os dois”, lançado pela Editora Novo Século.
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