Histórias verdadeiras dos que morrem por amor
top of page
Buscar

Histórias verdadeiras dos que morrem por amor

Por Fernando Jorge

Imagem: Freepik

Uma leitora do meu romance autobiográfico Eu amo os dois, lançado pela editora Novo Século, enviou-me uma carta, na qual escreveu:


“O senhor, no seu romance, narra que se apaixonou por uma jovem muito bonita, mas abandonou-a, depois de descobrir isto: ela amava também um primo. Amava os dois, o senhor e ele, devido a este conselho da mãe, repetido dezenas de vezes: minha filha, namore sempre dois rapazes, pois se um escapar, você ficará garantida com o outro.”


A leitora do meu romance quer saber se eu poderia morrer de amor, vítima de uma paixão. Respondo negativamente. Nunca serei capaz de morrer por amor, pelo fato de ser um cerebral, dono seguro dos meus sentimentos afetivos. Só gosto de quem gosta de mim. Se gosto de uma pessoa e percebo que ela não gosta de mim, afasto-me logo dessa pessoa. É o meu cérebro que controla as minhas emoções...


Prezada leitora do meu romance Eu amo os dois, já disse e repito, se Deus, ao criar o homem e a mulher, colocou a cabeça acima do coração, e não o contrário, foi para que ela, a cabeça, possa controlar os nossos impulsos, os nossos instintos, os nossos sentimentos.


Admito, todavia: muitos seres humanos podem morrer de amor, de paixão, de saudade. E não apenas por outro ser humano, mas também até por um animal.


Eu tinha um amigo que morreu por causa do seu grande amor por uma cadela. Durante anos ele passeava, todas as manhãs, com esse animal. Era uma cadela bela (rimou), de corpo grande, de pelos bem brancos. Ela o obedecia sempre. Se ele pedisse para ela abaixar a cabeça, a cadela abaixava. E se pedisse para se deitar, deitava-se: Cheguei a dizer a ele:


– Esta sua cadela parece ser uma linda mulher que se apaixonou por você. Até parece que você e ela se casaram, são marido e esposa.


Contudo, aos poucos, uma doença foi consumindo a cadela. Emagrecia cada vez mais. Um veterinário avisou o meu amigo:


– Ela só tem mais três meses de vida.


O meu amigo também foi emagrecendo cada vez mais. Perdeu oito quilos. E quando ela morreu, ele, também em pouco tempo, morreu de amor, de saudade...



Fernando Jorge é jornalista, escritor, dicionarista e enciclopedista brasileiro. Autor de várias obras biográficas e históricas que lhe renderam alguns prêmios como o Prêmio Jabuti de 1962. É autor do livro “Eu amo os dois”, lançado pela Editora Novo Século.

bottom of page