Entre dois amores, o seu coração balança
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Entre dois amores, o seu coração balança

Por Fernando Jorge

Foto: Sarah Ross

No meio das dezenas de cartas e e-mails que venho recebendo de leitoras do meu romance autobiográfico Eu amo os dois, lançado pela editora Novo Século, uma carta me impressionou muito. A autora é do bairro de Moema e tem dezoito anos. Enviou o número de seu telefone e a sua fotografia. Jovem bela, de cabelos louros. Escreveu na missiva de papel cor de rosa:


“Caro Fernando Jorge, após ler o seu romance Eu amo os dois, fiquei perturbada. A história que ele apresenta é idêntica à minha, sob vários aspectos. Quantas coincidências! Mas há uma diferença, minha mãe nunca me aconselhou a namorar dois rapazes ao mesmo tempo, com este argumento: se um dos dois escapar, você fica garantida, por ter o outro. Não, minha mãe, não é como a senhora Euterpe, que não parava de dizer isto a Elza, sua filha.


Em seguida, depois de citar a frase “o amor tem razões que a própria razão desconhece”, a autora, cujo nome não cito, por razões óbvias, acrescentou estas palavras:


“Um primo de primeiro grau, como o do seu romance Eu amo os dois, de quem gosto muito, com quem desde pequena brincava, eu dizendo ser sua esposa e ele meu marido, quer agora casar comigo, mas outro rapaz, colega da minha faculdade, e de quem também gosto muito, fez a mesma coisa, deseja unir a sua vida à minha, pelo laço do matrimonio. Entre os dois, escritor Fernando Jorge, o meu coração balança. Que devo fazer? Como tomar uma decisão? Se quiser, responda na sua seção do Grupo JBA, pois assim as suas palavras sensatas poderão ser uteis não apenas a mim, porém igualmente a outra jovem na mesma situação.”


A leitora do meu romance me coloca num problema delicado, de natureza psicológica. O que posso dizer? Sou mestre na arte de amar? Nunca errei na minha vida sentimental? Acredito que o meu amigo Ronaldo Côrtes estaria mais apto a responder a essa minha leitora, porque ele era um excelente psicólogo, como as suas crônicas revelam.


Sim, repito, o que posso dizer? Digo o seguinte, para a minha leitora: coloque numa balança de dois pratos os seus dois afetos. Após proceder desse modo, veja em qual prato o seu afeto pesa mais. Entregue o seu coração ao afeto do prato onde o peso for maior.


Eu faria assim. Contudo, para a minha leitora, a coisa não seja tão simples. Sugiro, então: indague a si mesma: em qual dos dois rapazes o meu coração acredita mais? No meu primo ou no meu colega da faculdade? Escolha aquele em quem você mais acredita. Mas se você acredita nos dois, de maneira igual? Puxa, que coisa difícil! Juro, confesso, não sei o que responder.


Fernando Jorge é jornalista, escritor, dicionarista e enciclopedista brasileiro. Autor de várias obras biográficas e históricas que lhe renderam alguns prêmios como o Prêmio Jabuti de 1962. É autor do livro “Eu amo os dois”, lançado pela Editora Novo Século.

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