Difícil momento de um comandante
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Difícil momento de um comandante

Por Coronel Camilo


Retomo o mesmo tema, com as mesmas palavras, para, mais uma vez falar da dor pela qual passa, infelizmente, nossa Polícia de São Paulo. Fica o meu desejo de que fatos lamentáveis como esse sejam cada vez menos presentes na sociedade paulista, quiçá não aconteçam mais.


Certa feita me perguntaram qual foi o pior momento no comando da Polícia Militar de São Paulo. Respondi, sem pestanejar, que foi aquele em que, tomado pela dor e forte sentimento de perda, prestei as honras militares a um irmão de farda e entreguei a bandeira nacional à sua mãe. Esse é o pior momento para um comandante. Momento em que um filme passa na nossa cabeça de toda nossa vida de caserna. Momento em que sabemos que não há volta, não há solução, não há remédio.


Somos tomados por um sentimento de impotência ao ver um guerreiro de Tobias, jovem, com toda uma história ainda a ser escrita, ter a sua vida interrompida de maneira brusca, contra o curso normal da natureza. A dor é de toda família policial-militar, mas principalmente dos entes mais próximos, esposa, marido, pais, filhos. Filhos ainda pequenos, cujos olhares brilhavam ao ver o pai chegar fardado de patrulheiro, um verdadeiro herói.


Essa semana, mais um desses heróis anônimos, que “protegem a vida, o patrimônio, os sonhos e as esperanças”, como bem dizia nosso ex-secretário de segurança, General Campos, nos deixou. O Soldado Patrick Bastos Reis, de 30 anos, das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar – ROTA, em serviço, patrulhando na cidade do Guarujá, foi covardemente alvejado, dentro de sua viatura, não resistiu aos ferimentos e faleceu. Levou ao extremo seu juramento de defender o cidadão com o sacrifício da própria vida.


Cumprindo os desígnios da profissão, na última quinta-feira o Soldado Reis fez como todo policial militar faz quando sai para o trabalho, despediu-se da esposa e filho pequeno de 3 anos como se fosse a última vez... e foi. Cumpriu o seu dever, estava a caminho de proteger mais uma vida, de muitas que protegeu durante sua vida profissional, “combateu o bom combate”.


Gostaríamos que fosse uma exceção, que a perda de uma vida policial fosse um fato muito esporádico, mas infelizmente não é. Durante os meus três anos à frente da Polícia Militar, aconteceram 48 entregas de bandeiras nacionais às famílias de jovens que um dia decidiram entrar para a Força Pública de São Paulo para servir e proteger o cidadão. Não foram momentos fáceis.


Muito mais que uma profissão, ser policial em São Paulo é uma verdadeira missão. Com salário que precisa ser revalorizado, tendo um risco de morte 6 vezes maior que o cidadão civil, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a vontade de servir, de ajudar o próximo, de fazer acontecer, de fazer a diferença na vida das pessoas ainda permeia uma grande quantidade de jovens que prestam um concorrido concurso para entrar para essa centenária Instituição.


Soldado Reis, podemos dizer com o peito estufado: não foi em vão! Seu exemplo, como de muitos outros heróis que descansam no Mausoléu da Polícia Militar, servem de estímulo para a construção de uma sociedade melhor, mais humana, mais justa. Vamos torcer e trabalhar para que entregas extremas como foi a sua sejam cada vez menos frequentes e possamos ter menos dias difíceis para os comandantes e para toda a família policial de São Paulo.



Coronel Camilo é formado em Administração de Empresas pelo Mackenzie, com bacharelado em Direito pela Universidade Cruzeiro do Sul e pós-graduado em Gestão de Tecnologia da Informação pela FIAP e em Gestão de Segurança Pública pela Secretaria Nacional de Segurança Pública.

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