Por Fernando Jorge
Enviei para o vereador gaúcho que ofendeu o povo baiano, dizendo que esse povo só sabe tocar tambor nas praias, esta carta sincera, repleta de boas intenções:
“Orelhudo vereador de quatro patas e comprido rabo sujo, fedido.
Sou dono de um pequeno sítio e por isto lhe ofereço os meus préstimos. Nele, no meu sítio, há um vasto capinzal, repleto de capim barba de bode. Quantos desse ótimo capim o senhor quer que eu mande para satisfazer a sua fome? Cinquenta quilos ou cem quilos? Talvez duzentos quilos, devido a sua insaciável fome de perfeito quadrupede, dotado de orelhas e rabo muito compridos.
Ah, não posso esquecer, tenho quatro lindas ferraduras prateadas para o senhor colocar nas suas quatro patas de burro vaidoso.
Também vou lhe dar um comprido chicote, para o senhor, que é um asno masoquista, ser chicoteado sem parar, dezenas e dezenas de vezes. E recomendo, procure zurrar bastante, ao receber sonoras, melodiosas chicotadas, zurre assim, rurrr, rurrr, rurrr, rurrrrrr... Como vai ser bonito!
Admire, meu caro burro vereador, a minha imensa bondade. Pretendo também lhe enviar um chapéu de palha, a fim de ser enfiado na sua cabeça de burro com longas e fedorentas orelhas. Esse chapéu de palha o protegerá mais nos dias de sol forte...
Desejando-lhe infindáveis chicotadas no seu gordo lombo, prezado burro vereador, receba o afeto, o carinho, do meigo, do suave
Fernando Jorge”.
Caros leitores, escrevi a mais bela carta da minha vida! Tão bela que estou chorando...
Fernando Jorge é jornalista, escritor, dicionarista e enciclopedista brasileiro. Autor de várias obras biográficas e históricas que lhe renderam alguns prêmios como o Prêmio Jabuti de 1962. É autor do livro “Eu amo os dois”, lançado pela Editora Novo Século.
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