Por Coronel Camilo
No último dia 2, sexta-feira, na cidade de Santos, no litoral de São Paulo, mais um fato que gostaríamos que não tivesse acontecido. Morreu baleado o policial militar Samuel Wesley Cosmo, o Soldado Cosmo, das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (ROTA). A perda de um filho deve ser uma das piores dores para um pai, e no caso do Cosmo, a dor desse pai foi redobrada, pois em 2018, também baleado por criminosos, morreu o seu irmão, kenney William Cosmo, quando saía de um batalhão da polícia Militar em que trabalhava, na cidade de santo André, na Grande São Paulo.
E saibam que não é só a família do policial que padece nesse momento. Por mais que se saiba, que se escute nas instruções e nos quartéis que fatos como esse podem acontecer, que o policial pode sair para o trabalho e por uma fatalidade, como foi o caso do Soldado Cosmo, não mais retornar para o seu lar, nunca é um fato esperado e sempre causa uma dor em toda a instituição policial. Toda a família policial militar é atingida, sente a dor da perda de um irmão de farda, tal qual o pai que perde seu ente querido.
Certa feita me perguntaram qual foi o pior momento para mim no comando da Polícia Militar de São Paulo. Respondi, sem pestanejar, que foi aquele em que, tomado pela dor e forte sentimento de perda, prestei as honras militares a um irmão de farda e entreguei a bandeira nacional à sua mãe. Esse é o pior momento para um comandante. Momento em que um filme passa na nossa cabeça de toda nossa vida de caserna. Momento em que sabemos que não há volta, não há solução, não há remédio.
Somos tomados por um sentimento de impotência ao ver um guerreiro de Tobias, jovem, com toda uma história ainda a ser escrita, ter a sua vida ceifada, de maneira brusca, contra o curso normal da natureza. A dor é de toda família policial-militar, mas principalmente dos entes mais próximos, esposa, marido, pais, filhos. Filhos ainda pequenos, cujos olhares brilhavam ao ver o pai chegar fardado de patrulheiro, um verdadeiro herói, o que nunca mais acontecerá.
Cumprindo os desígnios da profissão, na última sexta-feira o Soldado Cosmo fez como todo policial militar faz quando sai para o trabalho, despediu-se da esposa, da sua família como se fosse a última vez... e foi. Cumpriu o seu dever, estava a caminho de proteger mais uma vida, de muitas que protegeu durante sua vida profissional, “combateu o bom combate”.
Gostaríamos que fosse uma exceção, que a perda de uma vida policial fosse um fato muito esporádico, mas infelizmente não é. Durante os meus três anos à frente da Polícia Militar, aconteceram 48 entregas de bandeiras nacionais às famílias de jovens que um dia decidiram entrar para a Força Pública de São Paulo para servir e proteger o cidadão. Não foram momentos fáceis.
Soldado Samuel, podemos dizer com o peito estufado: não foi em vão! Seu exemplo, como de muitos outros heróis que descansam no Mausoléu da Polícia Militar, servem de estímulo para a construção de uma sociedade melhor, mais humana, mais justa. Vamos torcer e trabalhar para que entregas extremas como foi a sua sejam cada vez menos frequentes e possamos ter menos dias difíceis para os pais, para os comandantes e para toda a família policial de São Paulo.
Coronel Camilo é formado em Administração de Empresas pelo Mackenzie, com bacharelado em Direito pela Universidade Cruzeiro do Sul e pós-graduado em Gestão de Tecnologia da Informação pela FIAP e em Gestão de Segurança Pública pela Secretaria Nacional de Segurança Pública.
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