A desordem urbana e a criminalidade
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A desordem urbana e a criminalidade

Por Coronel Camilo


“A ocasião faz o ladrão” diz o antigo ditado de autor desconhecido. Embora eu prefira a correção feita por Machado de Assis: “a ocasião faz o furto; o ladrão nasce feito”. Seja qual for a frase escolhida, fica claro que muitos delitos acontecem quando há oportunidade. São os chamados crimes de oportunidade (Clark e Felson, 1998).


Quando estudamos o crime, aprendemos que ele é composto sempre por três elementos: a vítima, que somos todos nós em potencial; o infrator motivado para cometer o delito e o ambiente, que é o local onde a ação criminosa pode ocorrer. Também aprendemos que devemos cuidar dos três elementos, cada qual com ações específicas, mas, dentre eles, o ambiente é o maior responsável pela oportunidade do crime ser praticado.


O criminoso procura um ambiente conturbado para a prática do delito, pois num ambiente desordenado ele pode facilmente fugir, se esconder e não ser pego. Por isso, locais com desordem urbana, com iluminação precária ou sem ela, locais sujos com lixo espalhado pelo espaço público, praças com mato alto, pichação, muros quebrados, falta de sinalização adequada, ruas e calçadões tomados camelôs irregulares etc são convites a prática de crimes contra o patrimônio, como os furtos e roubos.


Reside aí a importância da prevenção primária, ou seja, cuidar do espaço público, deixá-lo sadio, limpo, bem iluminado, organizado e identificado. Um ambiente com estas características diminui a oportunidade do crime acontecer. O infrator não quer se arriscar num local onde ele pode facilmente ser identificado e pego, onde ele não possa se esconder.


Cuidar do ambiente é fundamental. E, para demonstrar essa importância, dois pesquisadores, James Wilson e George Kelling, criaram a “Teoria das Janelas Quebradas” (1982). Para isso, colocaram dois carros fechados, estacionados em ruas nos Estados Unidos: um no Bronx, bairro com sérios problemas sociais e de desordem, e outro em Palo Alto, bairro organizado e de classe média. O primeiro carro, em 24 horas, estava todo vandalizado e destruído. O segundo, ficou por uma semana sem nenhum dano, até que os pesquisadores quebraram uma das janelas do carro. Isso bastou para que, em 24 horas, o veículo ficasse destruído, idêntico ao primeiro caso.


A “janela quebrada” é o espaço degradado. Se não resolvermos rapidamente o problema daquela degradação, como por exemplo um saco de entulho jogado na esquina, teremos, em pouco tempo, infelizmente, mais entulhos, móveis velhos, objetos inservíveis, lixo etc. Resumindo, um local bagunçado leva a mais degradação, gerando um ambiente propício para criminosos atacarem suas vítimas.


Por outro lado, a teoria também nos mostra que se mantivermos o local limpo, organizado, ele terá menos chances de ser agredido, vandalizado. Lembrem-se do primeiro carro, enquanto o vidro estava intacto, o veículo nada sofreu. Podemos dar como exemplo o Metrô de São Paulo, está sempre em ordem e isso é um convite a assim permanecer. Quando há um problema, seja lixo, pichação, vandalismo ou outro, equipes rapidamente corrigem o problema, evitando que ele cresça e seja um incentivo a mais degradações.


Aí está a importância de cuidarmos do ambiente, começando pela nossa própria residência, nosso quintal, depois nossa rua, nossa praça, nossa cidade. Quanto mais sadio o ambiente, quando mais organizado o espaço público, menor será a oportunidade e probabilidade crime acontecer. A desordem facilita a criminalidade.


Coronel Camilo é formado em Administração de Empresas pelo Mackenzie, com bacharelado em Direito pela Universidade Cruzeiro do Sul e pós-graduado em Gestão de Tecnologia da Informação pela FIAP e em Gestão de Segurança Pública pela Secretaria Nacional de Segurança Pública.

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