Três hipóteses em torno das agressões de um padrasto assassino
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Três hipóteses em torno das agressões de um padrasto assassino

Por Fernando Jorge

Dr. Jairinho e Monique Medeiros em entrevista a TV (Imagem: Reprodução/TV Globo)

Recebi de gentil leitora, residente no bairro de Campo Belo, uma carta com estas palavras:


“Li o seu romance Eu amo os dois, publicado pela editora Novo Século. É a história verdadeira de sua paixão por linda jovem que amava, de modo sincero, o senhor e um primo dela, mas por causa disso, o senhor abandonou-a. O livro revela: o escritor Fernando Jorge é seguro analista da alma feminina. Pergunto, entretanto, se o senhor possui a capacidade de efetuar a análise da alma diabólica do monstruoso doutor Jairinho, o padrasto que assassinou o enteado, o menino Henry Borel, de apenas quatro anos”


Prezada leitora, nunca tive a capacidade de penetração psicológica do meu querido amigo Ronaldo Côrtes. Antes de publicar as suas admiráveis crônicas – análises brilhantes e profundas das ações e reações dos seres humanos – ele as lia para mim, com o objetivo de ouvir a minha opinião sempre de apoio, favorável.


Não posso definir, de modo firme, como é a alma sinistra do padrasto assassino, porém vou registrar aqui três hipóteses.


Primeira hipótese. Durante a infância, o doutor Jairinho foi maltratado por outro menino e se encheu de ódio, de revolta. Quis vingar-se e não conseguiu. Agora, na idade adulta, surrando crianças, ele se sente vingado.


Segunda hipótese. O pai o castigava brutalmente, sem razão, desde a época da sua infância. Hoje o doutor Jairinho talvez pense assim: apanhei muito do meu pai quando era menino, mas agora, que não sou mais criança, vou imitar o meu pai, batendo em meninos indefesos, como eu era. Imito o meu pai, vingo-me, e outros meninos devem apanhar como eu apanhei.


Terceira hipótese. Jairinho hoje assim raciocina: eu era fraco, apanhava bastante, sem poder evitar as surras, e agora, dando porradas em crianças, sou forte e vingo-me, faço eles sofrerem o que sofri.


Apresentei somente três hipóteses. Traumas, contudo, às vezes se tornam indestrutíveis. Fiquei conhecendo um rapaz, por exemplo, cujo pai já falecido, era brutal, e aplicava socos nele, no seu filho, com luva de box. O rapaz fez montagem numa fotografia colorida, na qual aparece com enorme luva de box, esmurrando o pai...



Fernando Jorge é jornalista, escritor, dicionarista e enciclopedista brasileiro. Autor de várias obras biográficas e históricas que lhe renderam alguns prêmios como o Prêmio Jabuti de 1962. É autor do livro “Eu amo os dois”, lançado pela Editora Novo Século.

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