Por Fernando Jorge

Este mundo está cheio de loucos. Há poucos dias ouvi estas palavras pelo telefone:
– Acabei de ler o seu último livro, o romance Eu amo os dois, da editora Novo Século. Nesse livro o senhor descreve a sua paixão por uma bela moça. Eu soube que é viúvo e quero que se apaixone por mim e se torne meu marido.
Respondi, surpreso:
– Desculpe-me, não pretendo me casar e nem me apaixonar.
A mulher não desistiu:
– O senhor não sabe o que vai perder, se não se casar comigo.
– O que vou perder? – indaguei.
– Vai perder a minha beleza, o meu carinho, os meus beijos, o meu corpo perfeito, maravilhoso com cintura fina e pernas de Afrodite, a deusa grega da beleza. Portanto o senhor precisa me ter como sua marida.
– Marida?
– É, marida, pois será o marido de uma mulher quente como o meu fogão elétrico.
– Mas por que a senhora quer se casar comigo?
– Senhora não, senhorita.
– Está bem, mas por quê?
– Repito, porque o senhor é viúvo, e sendo viúvo, não é jovem, e não sendo jovem, casando-se comigo, poderá morrer logo e eu ficar com o seu dinheiro, a sua casa, tudo que o senhor tem de valor.
Vi imediatamente, eu estava conversando pelo telefone com uma louca, uma desequilibrada, e resolvi ser calmo, não me irritar:
– Parabéns, gostei da sua franqueza.
Ela agradeceu:
– Bondade sua, obrigado, mas se o senhor se casar comigo, eu prometo, não vou envenená-lo, só lhe darei um grande susto para o senhor morrer de repente, sem sentir nenhuma dor. Está bem assim?
Minha resposta:
– Ótimo, já que pretende me matar dessa maneira, desejo que seja a minha marida.
Concluindo, às vezes, junto dos loucos, também devemos ser loucos...

Fernando Jorge é jornalista, escritor, dicionarista e enciclopedista brasileiro. Autor de várias obras biográficas e históricas que lhe renderam alguns prêmios como o Prêmio Jabuti de 1962. É autor do livro “Eu amo os dois”, lançado pela Editora Novo Século.
Comments