Por Fernando Jorge
O coração, no ser humano, é para mim a alma palpitante, materializada. Quando um coração ama outro coração, é uma alma que ama outra alma, porém, no decorrer de um namoro, um namorado deve perguntar à namorada, ou ela a ele:
– Diga a verdade, o seu coração ama o meu coração?
Contemplando as vidas de várias figuras do passado, indaguei a mim mesmo:
– Os seus corações se amaram ou houve apenas a união de dois corpos e não de duas almas?
Lembrei-me do filósofo grego Sócrates (470? -399 antes de Cristo). Ele era casado com Xantipa, mulher mal-humorada, irritadiça. Certa vez, após ela gritar e o xingar, ele saiu de sua casa e Xantipa, de uma janela, atirou na cabeça do filósofo a água de um balde. Sócrates apenas se limitou a dizer:
– Depois dos raios da tempestade vem a chuva...
Pergunto se a alma de Xantipa se casou com a alma de Sócrates, se os corações de ambos batiam juntos, falando assim, eu amo você, eu amo muito você...
Quantos casaram os seus corpos e nunca as suas lamas, quantos! Por que, hoje, o número dos divórcios não para de crescer? A resposta é simples, é porque hoje, nos casais, a atração sexual predomina e inexiste a atração espiritual. Estamos na época do materialismo e não na época do espiritualismo.
Voltemos, porém, ao passado, pois ele também nos ensina, é um professor. Vejam, por exemplo, o caso de D. Pedro I, o proclamador da nossa Independência, em 7 de Setembro de 1822. Ele, o filho do rei português D. João VI e da espanhola Carlota Joaquina, casou-se com Leopoldina, arquiduquesa da Áustria. Dessa união nasceram quatro filhos, dona Maria Segunda, futura rainha de Portugal, dom Pedro II, nosso último imperador, dona Francisca, princesa de Joinville, e dona Januária, princesa de Áquila.
Muito bem, do matrimonio de D. Pedro I com Leopoldina vieram ao mundo esses quatro filhos, porém o coração do filho de D. João VI nunca amou de fato o coração de Leopoldina. A união foi apenas carnal e não espiritual. Mulherengo, D. Pedro I teve várias amantes e apaixonou-se por Domitila, a marquesa de Santos... A alma dele nunca se casou com a alma da austríaca. Repito, noivos, casem primeiro as suas almas e depois casem os seus corpos.
Fernando Jorge é jornalista, escritor, dicionarista e enciclopedista brasileiro. Autor de várias obras biográficas e históricas que lhe renderam alguns prêmios como o Prêmio Jabuti de 1962. É autor do livro “Eu amo os dois”, lançado pela Editora Novo Século.
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