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Foto do escritorFernando Jorge

Pergunto: que vale tudo isto diante das sandálias de Jesus?

Por Fernando Jorge

Imagem: Freepik

Que vale o chapéu de Napoleão, o vestuário de Carlos XII da Suécia, a cadeira de marfim de Gustavo Vasa, diante das humildes e rôtas sandálias de Cristo? Que valem todos estes objetos de vaidade e de luxo, diante do calçado miserável daquele que caminhou paternalmente ao encontro dos homens para lhes ensinar o segredo e a vereda do reino de Deus?


As sandálias pobres de Jesus não pisaram cadáveres, como as botas de Napoleão, Carlos XII e Gustavo Vasa. Elas, divinamente, foram à procura da ovelha que se perdeu:


“Eu sou o bom pastor. O bom pastou dá a vida pelas suas ovelhas.”


Os outros soberanos marcharam com suas botas enlameadas em busca da glória sangrenta, banhada pelo pranto dos órfãos, das esposas e das mães. Ele, o suave Nazareno, arrastando as sandálias empoeiradas, foi entregar o Seu perdão à Madalena e à mulher acusada de adultério.


Andou com essas frágeis sandálias pelas estradas ásperas da Galileia, chamando a Si os leprosos e ressuscitando os filhos únicos das viúvas inconsoláveis.


Caracala ordenou a morte de cerca de vinte mil pessoas, entre as quais a do jurisconsulto Papiniano.


Tamerlão, em Bagdá, mandou erguer uma pirâmide formada de novecentas mil cabeças humanas e pôs Bajazé numa jaula, a fim de acompanhá-lo em todas as suas expedições.


Jesus abraçou todos os seres numa ternura celestial. Seu reino, de fato, não é deste mundo, onde os homens se alimentam de ferocidade e, quase sempre, escolhem Barrabás, entregando a Sócrates a taça de cicuta.


Sandálias de Cristo! Paupérrimas e santíssimas sandálias de Cristo, que protegeram o filho de Deus das urzes e escolhos dos caminhos selváticos! Mostrai-nos o vosso traço inextinguível, as vossas marcas fecundas no solo agreste, repleto de cardos...


Fazei reflorirem os lírios do Amor e da Bondade nesses terrenos sáfaros, cobertos de ervas daninhas!



Fernando Jorge é jornalista, escritor, dicionarista e enciclopedista brasileiro. Autor de várias obras biográficas e históricas que lhe renderam alguns prêmios como o Prêmio Jabuti de 1962. É autor do livro “Eu amo os dois”, lançado pela Editora Novo Século.

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