Por Paulo Lázaro
Como médico, já publiquei em meu site em minhas redes sociais alguns vídeos e textos sobre vacinas. Porém, com o início da vacinação contra o coronavírus em diversos países, muitas dúvidas e informações desconexas têm surgido. E é justamente por isso, que gostaria de falar novamente sobre o tema.
Já no século XVI, o médico suíço Paracelso (pseudônimo de Philippus Aureolus Theophrastus), dizia que “a diferença entre o remédio e o veneno é a dose”.
Esse princípio faz todo sentido quando falamos sobre nosso sistema imunológico e doenças infecciosas. A vacinação previne as doenças com inoculação em nosso organismo de partes mortas de vírus ou bactérias, de maneira altamente segura.
Após a vacinação, o nosso organismo sente algo diferente e reconhece, via sistema imunológico, que há um ‘corpo estranho’ no local, que deve ser combatido, e com isso se prepara para uma futura infecção.
Desde o Império Romano até a década de 1940, a expectativa média de vida era próxima dos 40 anos.
A vacinação, junto com a antibioticoterapia - a mais revolucionária mudança já ocorrida em toda a história da medicina -, foram as responsáveis por dobrar essa expectativa de vida ao nascer, que hoje no Brasil é de aproximadamente 75 anos, segundo o IBGE.
As vacinas, portanto, podem curar e prevenir várias doenças: meningites, paralisia infantil, pneumonias, doenças virais e até serem protagonistas no combate ao câncer, como são os casos das vacinas contra hepatite e HPV.
Infelizmente temos hoje, em meio a pandemia do coronavírus, uma politização totalmente desnecessária em relação à vacinação contra o vírus COVID-19.
Para piorar o quadro temos uma quantidade significativa de notícias falsas sendo espalhadas. Apesar de todo o trabalho sério dos pesquisadores e das ações para esclarecimento, ainda aparecerem boatos que viralizam com informações absurdas, como as vacinas conterem nanopartículas para controle social, causarem autismo ou ainda que modificam o DNA dos seres humanos.
Recentemente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou instituições e autoridades sobre o que chamou de “infodemia”. Elas consistem em teorias da conspiração, fake news, rumores e outros conteúdos divulgados em torno da pandemia e que não são comprovados.
Uma das fake news mais divulgada nos Estados Unidos e parte Europa foi a de que ingerir álcool com uma alta concentração pode desinfetar o corpo e matar o vírus. Por conta disso, diversas pessoas fizeram uso do “método” e 5.876 pessoas foram hospitalizadas, 800 mortas e 60 ficaram cegas.
Tedros Adhanom, diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, afirmou que a desinformação sobre as vacinas é uma grande ameaça à saúde global e chegou a pedir ajuda do Facebook, Google e Twitter no combate à disseminação de notícias falsas.
No Brasil
De acordo com o Ministério da Saúde, todas as vacinas disponibilizadas no Programa Nacional de Imunizações passam pelo crivo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que obedece aos parâmetros internacionais para avaliar segurança, imunogenicidade e eficácia. E isso não será diferente no caso da vacina contra a Covid-19. Portanto, é essencial não acreditar em falsas notícias e, antes de compartilhar qualquer conteúdo, busque confirmação em fontes confiáveis.
Claro que algumas pessoas podem falar que a vacina não tem 100% de eficácia e poder dar efeitos colaterais. Porém, a maioria das vacinas não tem 100% de eficácia, quase nada em medicina tem. E isso não significa que elas não funcionem e que não possam bloquear a transmissão de vírus ou bactérias.
O raciocínio é simples: se todas as pessoas de uma cidade são vacinadas e 90% delas ficam imunes a uma doença, é possível bloquear a transmissão para que não atinja os 10% de pessoas que não tiveram a imunidade.
Importante entender que as vacinas são cientificamente testadas e, em casos de pandemias podem ser aceleradas, mas sempre no limite de segurança de estudos científicos.
Seu funcionamento é bem conhecido e passa por intenso processo de avaliação antes de serem distribuídas ao público. Estudos avaliam grupos de pessoas que recebem a vacina e grupos de pessoas que recebem um placebo (algo que não faz bem nem mal) e tem a função de assegurar que determinada vacina pode ser aplicada na população com benefício definido. Este processo faz com que o resultado seja muito próximo do que foi visto nos estudos realizados.
Desde que o mundo é mundo nunca vimos a humanidade viver tanto. As vacinas proporcionaram esse salto na expectativa e qualidade de vida das pessoas. Por isso estimulamos o uso de vacinas, que devem ser administradas de forma pragmática e sempre à luz da ciência.
Sigamos os preceitos de Paracelso e cultivemos com as vacinas a nossa saúde e de nossos familiares. Vacina, afinal, é um ato de amor.
Paulo Lázaro é médico, graduado pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), com doutorado na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Especialista em Radioterapia e Neuro-oncologia. Idealizador do site Radioterapia Legal https://radioterapialegal.com.br
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