Cirurgião oncológico explica os cuidados especiais que as pessoas que atravessam um tratamento de câncer devem ter e alerta para os riscos da interrupção do tratamento
Da Redação
Estudos apontam que, desde o início da pandemia da COVID-19 no Brasil, pelo menos 50 mil pessoas deixaram de ser diagnosticadas com câncer.
Outras milhares, já com o diagnóstico da doença, tiveram seus tratamentos interrompidos, sem previsão de retorno. O cirurgião geral e oncológico, aponta as possíveis consequências que a situação vivida hoje poderá trazer aos pacientes oncológicos, especialmente nos casos de tumores agressivos.
Qual o risco de adiarmos o tratamento do câncer em função da pandemia da Covid-19?
O câncer é uma doença curável na grande maioria dos casos, mas para isso, deve ser diagnosticado e tratado o mais rápido possível. Adiar o início do tratamento reduz substancialmente as chances de cura e pode, não apenas dificultar o tratamento, como também reduzir a qualidade de vida do paciente.
Há casos em que o tratamento pode aguardar o fim da epidemia?
Todo caso deve ser avaliado individualmente por um especialista e o tratamento deve ser decidido junto com o paciente. De qualquer forma, hoje já existem meios absolutamente seguros de dar continuidade a tratamentos de câncer, assim como de outras doenças, mesmo que não sejam urgentes. Como esta pandemia ainda deve se prolongar por alguns meses, pelo menos, precisamos evitar postergar tratamentos sem necessidades, sob o risco de superlotar os serviços no futuro.
Como o senhor lida com a interrupção dos tratamentos por parte dos pacientes, que temem a infecção pelo coronavírus?
É importante explicar que as medidas adotadas pelos profissionais envolvidos no tratamento e pelos hospitais nos quais os procedimentos têm sido realizados são eficazes para garantir a segurança e prevenir a contaminação pelo coronavírus. Hoje, atuamos em áreas denominadas "Covid-free" dentro dos hospitais, com normas de segurança especificamente voltadas à prevenção da contaminação pelo coronavírus.
No caso do paciente oncológico, quais casos não podem esperar o fim da pandemia?
Alguns tipos de câncer mais agressivos, de evolução mais rápida, certamente devem ser tratados imediatamente. Um bom exemplo é a carcinomatose peritoneal, que é a disseminação intra-abdominal de um câncer, que sai de seu órgão de origem e se espalha pelo peritônio, membrana de revestimento interno do abdome.
Quais as causas da carcinomatose peritoneal?
As causas são câncer de intestino, câncer do apêndice, pseudomixoma - que é um acúmulo de mucina no abdômen, mesotelioma peritoneal, câncer de ovário, câncer de pâncreas, câncer de estômago, câncer de mama e o câncer primário de peritônio.
Como é o tratamento deste tipo de câncer?
A carcinomatose peritoneal requer especialistas capacitados e hospitais de referência para oferecer melhor prognóstico a pacientes. Por se tratar de um procedimento de alta complexidade, além de médicos especialistas, com ampla experiência na área, requer hospitais com excelente infraestrutura de UTI. A cirurgia consiste em retirar todo o peritônio doente e, também, alguns órgãos, quando necessário, para em seguida aplicar a quimioterapia intraperitoneal hipertérmica (HIPEC). Esta técnica vem permitindo a muitos pacientes a cura da carcinomatose, ou proporcionando sobrevidas muito mais longas.
Para encerrar, quais as recomendações para os pacientes oncológicos de protegerem durante a pandemia?
Além das recomendações que valem para todos, que são: sempre que possível, permanecer em casa. Caso não seja possível, usar máscara, manter distância segura das pessoas, evitar contato físico e lavar bem as mãos com frequência, o paciente oncológico deve estar atento aos sintomas e procurar atendimento médico em caso de febre alta, tosse seca e falta de ar. É também importante seguir as recomendações médicas, tomar corretamente os medicamentos e se alimentar adequadamente.
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