Por Heródoto Barbeiro
Esse é um segredo guardado a sete chaves. Ninguém ousa arriscar um palpite de como está a saúde do chefe do Executivo. Os boatos circulam rapidamente da capital da República para outras cidades do país. Os jornalistas se apinham na porta do palácio presidencial e no hospital onde o presidente está sendo atendido por uma equipe médica considerada do mais alto nível. Os jornais apresentam as mais diferentes hipóteses sobre a origem do afastamento do chefe do Executivo e não afastam a possibilidade de uma trama bem-concebida para que ele não se perpetue no seu segundo mandato à frente do Executivo federal. Afinal, poucos políticos conseguiram a reeleição e ele é um deles, em que pese ter uma longa carreira política em São Paulo e ter ocupado cargos importantes nos últimos tempos.
O vice-presidente é frágil. É um político sem liderança e é considerado apenas o complemento da chapa que ganhou a eleição presidencial. Como tudo é possível em um clima político de constante desordem, cogita-se, até mesmo, que o vice assuma a presidência da República no impedimento do titular. Mas o que diz a Constituição do Brasil? Se o titular não tiver cumprido, pelo menos, a metade do mandato para o qual é eleito, o vice deve convocar novas eleições e em hipótese alguma deverá cumprir até o fim o mandato para o qual foi eleito. Contudo nem sempre se cumpre o que está escrito na Constituição e o guardião, o Supremo Tribunal Federal, nem sempre está acordado para pôr ordem na casa. Todos se lembram quando Deodoro renunciou e o vice, Floriano Peixoto, implantou uma ditadura militar e ficou até o final do mandato. Alegou que esse princípio constitucional não se aplicava a ele.
A notícia é a pior possível, porém já esperada pela população e pela imprensa. O presidente está contaminado pela gripe espanhola. A doença não tem cura no mundo. Só muito tempo depois é que os cientistas descobrem que é um vírus da influenza, o tal H1N1, temido por todos, médicos e pacientes. O presidente Rodrigues Alves não resiste e morre em 1919. A gripe atinge todos os continentes do globo e no Brasil também faz milhares de mortos. Quem pode foge das grandes cidades litorâneas para o interior do país em busca de isolamento e defesa contra uma epidemia mortal. Cabe ao vice-presidente, Delfim Moreira, assumir a presidência da República e convocar novas eleições. Ele também está adoentado. Desta vez, a Constituição de 1891 será respeitada. No pouco tempo no comando do governo, o mineiro Delfim herda de Rodrigues Alves crises sociais e econômicas. Epitácio Pessoa derrota o incansável Rui Barbosa e assume a presidência da chamada República Velha.
Heródoto Barbeiro é jornalista do R7, Record News e da Nova Brasil FM. Também é professor, Mestre em História pela USP e advogado pela FMU. Já passou pela TV Cultura, pela CBN e pela Globo. Você pode ver mais em www.herodoto.com.br
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