Por Fernando Jorge
Já descrevi em outra crônica o meu encontro na Livraria Teixeira com uma entusiasta admiradora do Silvio Santos, comunicador que respeito e admito. Aliás, já fui entrevistado por ele.
Conforme narrei, o nome do Silvio, naquela época, estava sendo divulgado como o de um possível candidato a presidência da República. A fã ardorosa do apresentador, mulher de cerca de 60 anos, insistiu diante de mim e do meu amigo Carlos Cardoso, gerente da livraria:
– Vorte nu Sirvio.
Ela usou, em nosso primeiro encontro, estes argumentos, para me convencer a votar no Silvio: ele é gozado, diverte a gente, sorta aviãozinho de dinheiro, colocou a mão no ombro dela e além disso é santo, porque se chama Sirvio Santo, sem o s no final do seu segundo nome...
No meu segundo encontro com esta mulher tão instruída, tão encantadora, fiz esta pergunta:
– O que o Silvio Santos vai fazer após ser eleito presidente da República?
Mostrou-se surpresa:
– Intão o sinhô não sabi? Devi sabê, purquê é jiurnalista.
O meu amigo Carlos Cardoso pôs a mão na boca, a fim de não rir, e a mulher respondeu:
– Sirvio Santo vai sortar muito aviãozinho de dinheiru, lá du arto du morru du Coco Raladu.
Voltei a perguntar:
– De onde, minha senhora?
Procurou ser bem clara:
– Ele, o Sirvio Santo, presti atençaun, vai sorta us aviãozinho lá du arto do morru do Coco Raladu, ondi ixisti uma istatua de Jesus.
Aí eu compreendi e procurei corrigi-la:
– Desculpe-me, senhora, esse morro não tem o nome de morro do Coco Ralado e sim morro do Corcovado, onde no seu ponto mais alto está a famosa estátua do Cristo Redentor.
A gargalhada do meu amigo Carlos Cardoso foi estrondejante, parecia uma bomba, mas a mulher não se alterou:
– Naum sinhô, é memo morru du Coco Ralado purquê eli tá cheinho di vendedô di coco raladu, bem gostosu.
De tanto rir o meu amigo Carlos Cardoso ficou com a cara de um graúdo tomate vermelho, porém a mulher não perdeu a calma e prosseguiu:
– Quem mi contô qui si chama morro do Coco Ralado foi a minha comade Zefa qui sabi tudo, até pareci prufessora.
Em seguida, a culta, a bem-informada senhora concluiu, decerto sentindo pena de mim, por causa da minha imensa, lamentável ignorância:
– Lá du arto do Coco Ralado, o Sirvio Santo, comu prisidenti, vai abençoá todus noi, purquê eli é memo santo. I vai sorta pra todu Brasil uma porção di aviazinho di dinheru.
Creia, amigo leitor, tal conversa aconteceu, não inventei nada.
Fernando Jorge é jornalista, escritor, dicionarista e enciclopedista brasileiro. Autor de várias obras biográficas e históricas que lhe renderam alguns prêmios como o Prêmio Jabuti de 1962. É autor do livro “Eu amo os dois”, lançado pela Editora Novo Século.
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