O menino Rousseau amou duas moças
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O menino Rousseau amou duas moças

Por Fernando Jorge

Filósofo Jean Jacques Rousseau (Reprodução)

O meu bate-papo intitulado “O menino que amava duas meninas”, baseado na carta que recebi de uma leitora do romance Eu amo os dois, escrito por mim, fez essa leitora me enviar outra carta, na qual formulou a seguinte pergunta:


“Escritor Fernando Jorge, existe na vida de uma pessoa famosa um caso idêntico ao meu caso?”


Respondo a essa leitora, sim, existe. Apesar de ter evocado alguns casos de duplicidade amorosa no meu romance Eu amo os dois, publicado pela editora Novo Século, há outro caso dessa natureza, ocorrido com um personagem célebre da literatura de língua francesa. Trata-se do filósofo Jean Jacques Rousseau (1712-1778), nascido em Genebra, na Suíça, cujo pensamento influiu muito na sociedade do seu tempo, inclusive na revolução que fez Luís XVI e Maria Antonieta, soberanos da França, serem decapitados na guilhotina.


A infância de Rousseau foi triste, dolorosa. Quando ele nasce, sua mãe morre. O pai, inconsolável, entrega o filho a um irmão casado, para o educar. E esse irmão, em vez disso, entrega o sobrinho a um pastor protestante. Humilhado, maltratado, devido a uma falta que não cometera, tornou-se um menino amargo, cheio de revolta. Tornou-se insociável.


Tendo pouco mais dez anos de idade, Jean Jacques passou a amar duas moças, de forma igual. Uma delas, a Vuisson, estava com 22 anos. A outra chamava-se Gaton. A primeira era mais carinhosa, retribuía o amor de menino, trocavam cartas. Certa vez, Rousseau pensou em se afogar num lago, quando a viu partir. E a senda amada por ele, a Gaton, mostrava-se altiva, mais fria. Uma se casou e ele sofreu. Aliás, o menino Jean Jacques Rousseau não queria, em hipótese alguma, possuíssem namorados...


O caso de Rousseau, de amor duplo, revela a complexidade de certos afetos. Ele, o amor, exibe centenas de faces, de aspectos. Eu próprio, menino ainda, apaixonei-me por uma professora de 25 anos, lá em Petrópolis, minha terra natal, e sofri muito, ao saber que ela ia se casar...


Declaro, portanto, à amável leitora do meu romance Eu amo os dois: a história nele narrada é absolutamente verdadeira. Amei uma bela jovem que amava também, de maneira idêntica, o seu primo de primeiro grau. Motivo, desde pequena, a sua mãe não parava de lhe dizer:


– Minha filha, namore sempre dois rapazes, porque assim você fica garantida, se um escapar, ficará segura com o outro.


Consequência, ela seguiu consciente ou inconsciente o conselho diabólico da mãe e ficou gostando de mim e do primo... Mas eu, como não nasci para ser chifrudo, ao descobrir essa duplicidade, abandonei-a. Narro tudo isto no romance escrito sob o estimulo do meu querido e inesquecível amigo Ronaldo Côrtes.


Fernando Jorge é jornalista, escritor, dicionarista e enciclopedista brasileiro. Autor de várias obras biográficas e históricas que lhe renderam alguns prêmios como o Prêmio Jabuti de 1962. É autor do livro “Eu amo os dois”, lançado pela Editora Novo Século.

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