O cenário brasileiro no Dia Mundial do Câncer
top of page
Buscar

O cenário brasileiro no Dia Mundial do Câncer

Por Paulo Lázaro


No dia 4 de fevereiro é celebrado o Dia Mundial da Luta contra o Câncer. O objetivo da data é aumentar a conscientização e a educação mundial sobre a doença, além de influenciar governos e toda a sociedade para que se mobilizem pelo controle do câncer evitando milhões de mortes a cada ano. Em tempos de pandemia, o apelo é ainda mais importante.


Quantas pessoas no mundo deixaram de fazer os exames de rotina? Quantas cirurgias e tratamentos foram adiados? É consenso na literatura médica que o câncer, ao ser diagnosticado no início, tem grandes chances de cura. Nesta semana a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que o Câncer de Mama passa a ser o líder no número de casos, ultrapassando o do pulmão. A pesquisa ainda apontou que a pandemia de Covid-19 está atrasando diagnósticos e interrompendo tratamentos de câncer na metade dos países pesquisados. No Brasil, segundo estimativa da Fundação do Câncer, com base em dados do Sistema Único de Saúde (SUS), em 2020 houve uma redução de 84% no número de mamografias realizadas no país em comparação com 2019.


Também por causa da pandemia, o investimento por parte dos governos em melhorias e ampliação de centros e hospitais tratamento do câncer foi bastante afetado.


Só na área de Radioterapia, por exemplo, que já tinha um déficit em todo o Brasil, a situação tende a piorar. A Radioterapia é um importante e imprescindível tratamento para vários tipos de câncer, fazendo com que os tumores diminuam ou até desapareçam. 60% dos pacientes com câncer têm indicação de radioterapia para curar, auxiliar no tratamento ou para aliviar os sintomas da doença. A Radioterapia é uma das modalidades de tratamento oncológico mais custo-efetiva.


O último levantamento do Ministério da Saúde de 2018, diz que há no Sistema Único de Saúde (SUS) 295 aparelhos para radioterapia, mas segundo recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), o número ideal seria de 697, ou seja, um aparelho para cada 300 mil habitantes.


E para agravar o cenário, mais da metade do parque atual de radioterapia estará obsoleto em 2022, por isso pessoas em tratamento poderão ter uma expectativa de vida diferente, a depender do hospital em que forem atendidas.


No Brasil, enquanto algumas regiões possuem o que há de mais moderno com aparelhos de alta precisão, outras sequer oferecem o básico. O problema é tão sério que apenas 50% dos pacientes do SUS são atendidos para fazer Radioterapia, sendo que em média seis de cada 10 pacientes com câncer têm indicação para radioterapia, mas somente três conseguem o atendimento pelo SUS.


Em alguns estados, os pacientes têm que fazer um grande deslocamento para realizar o tratamento, principalmente no norte e nordeste do país. Há casos, de pacientes terem de viajar mais de mil quilômetros para conseguir fazer a radioterapia, como em Roraima, onde algumas pessoas chegam a percorrer 1500 quilômetros para se tratar.


Tudo isso culmina com números alarmante, segundo a Sociedade Brasileira de Radioterapia, nos próximos 10 anos mais de 6.200 mortes podem ser evitadas se todos tiverem acesso a radioterapia.


É necessário e urgente a adoção de políticas públicas no setor. Em 2035 a população brasileira será de 229 milhões de habitantes de acordo com projeção do IBGE. Considerando o parque de máquinas atual e a obsolescência serão necessários 577 novos equipamentos de radioterapia. Ou seja, aumento de 150% da capacidade instalada. Para ampliação dos serviços, também serão necessários investimentos em infraestrutura, como na construção de bunkers para instalação dos equipamentos, além de treinamento de pessoal.


A tarefa parece hercúlea, mas vale o prêmio. O diagnóstico e o tratamento precoce do câncer salva vidas e por isso, nesse dia, desejo muita força a todos os que lutam essa batalha a favor da vida.



Paulo Lázaro é médico, graduado pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), com doutorado na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Especialista em Radioterapia e Neuro-oncologia. Idealizador do site Radioterapia Legal https://radioterapialegal.com.br

bottom of page