Não sou, juro, delegado de polícia
top of page
Buscar

Não sou, juro, delegado de polícia

Por Fernando Jorge

Imagem: Reprodução

Continuo impressionado com o prognostico do meu querido amigo Ronaldo Côrtes, que após ler o meu romance autobiográfico Eu amo os dois, publicado pela editora Novo Século, garantiu sorrindo, com a mão na minha cabeça:


– Garanto, Fernando, após este seu livro ser lançado, você vai receber cartas de muitos leitores, pedindo conselhos.


O meu amigo Ronaldo Côrtes se mostrou um profeta infalível, como Nostradamus (1503-1566), que previu, há mais de quatrocentos anos, vários acontecimentos dos séculos vindouros, inclusive a ascensão do nazismo de Adolf Hitler (1889-1945).


Um leitor do bairro paulistano de Higienópolis enviou-me uma carta com estas palavras:


“Senhor delegado de polícia Fernando Jorge, peço-lhe socorro, não aguento mais, estou sendo vítima de um monstro que usa saia. Era minha namorada. Durante o namoro me traiu quatro vezes. Cometi o erro de perdoá-la, mas agora confessou que sente muito prazer em me trair, de olhar o meu sofrimento, de me ver humilhado. E afirmou: sou sádica, quanto mais vejo você sofrer, mais sinto prazer.”


Depois de contar isto, o autor da carta acrescentou:


“Resolvi me afastar dela, de modo definitivo, mas senhor delegado de polícia Fernando Jorge, esse monstro não para de me perseguir. Se estou numa padaria ou comprando um jornal, o monstro aparece, me cerca, faz escândalo. Disse que se eu não voltar para cair nos seus braços, vai me dar um tiro ou uma punhalada. Socorro, senhor delegado de polícia Fernando Jorge, socorro! Mande um policial da sua delegacia prende-la, algemá-la, enfiá-la numa cela da sua delegacia, por favor, imploro de pés juntos, ajoelhado diante de sua pessoa, seja o meu santo, faça uma caridade!”


Esta carta me deixou espantado e com bastante pena. Aliás, duplamente surpreso, porque não sou delegado de polícia, nunca fui. No entanto cheguei à conclusão de que esse meu leitor (elogiou o meu romance Eu amo os dois), é vítima de uma sádica doente mental. Aliás, eu me corrijo, o sadismo, na minha opinião, já é uma enfermidade mental, digna de terapêutica...


Finalizo dando este conselho ao martirizado: peça à família da sádica para a internar numa boa clínica psiquiátrica. E grave na sua memória, prezado leitor, não sou, juro, delegado de polícia...



Fernando Jorge é jornalista, escritor, dicionarista e enciclopedista brasileiro. Autor de várias obras biográficas e históricas que lhe renderam alguns prêmios como o Prêmio Jabuti de 1962. É autor do livro “Eu amo os dois”, lançado pela Editora Novo Século.

bottom of page