Não errei, o meu romance é autobiográfico
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Não errei, o meu romance é autobiográfico

Por Fernando Jorge

Imagem: Redação JBA

Como escritor e jornalista, aceito ser criticado. Se alguém provar que errei, abaixo a minha cabeça e reconheço:


– Sim, tem razão, errei.


O senhor Aldemir Nunes Requião, no seu livro Literatura brasileira contemporânea, lançado pela editora Arco e Flexa, resolveu me criticar desta maneira:


“Fernando Jorge é autor do romance Eu amo os dois, que ele chama de autobiográfico, no qual descreve o amor de uma bela jovem por dois rapazes, por ele, o autor (quando era moço), e por um primo de primeiro grau. Segundo frisa Fernando nessa obra, ela ficou amando realmente ele, Fernando, e o primo, devido a este conselho de sua mãe: minha filha, namore sempre dois rapazes, pois se um escapar, você ficará garantida com o outro.”


Após dizer isto, o senhor Aldemir acrescentou:


“Fernando Jorge errou, ao classificar o seu romance de autobiográfico. Não existe romance desse tipo, nunca existiu. Romance é obra de imaginação, como a jabuticaba é fruto da jabuticabeira.”


Senhor Aldemir, a sua ignorância me impressiona. Pergunto: o senhor gosta de soltar grandes mentiras? Adquira, por favor, mais cultura literária, não lance afirmativas de tal natureza, para não ficar desmoralizado. Garantir que não existe e nunca existiu o romance autobiográfico, é tão absurdo como assegurar: quem tem fome não deve comer ou quem tem dinheiro deve jogá-lo numa lata de lixo.


Vou citar aqui quatro famosos romances autobiográficos da literatura brasileira.


O romance O Ateneu, de Raul Pompéia, publicado em folhetins e depois em livro, na década de 1890. Nessa obra Raul Pompéia (1863-1895), evoca a sua vida de estudante no colégio de Abílio Cesar Borges, famoso pedagogo.


Os romances A conquista e Fogo fátuo, do escritor maranhense Coelho Neto (1864-1934), filho de um português e de uma índia civilizada, livros nos quais ele descreve, na fase da mocidade, a sua própria vida e as vidas do boêmio Paula Ney, do poeta Olavo Bilac, do romancista Aluísio Azevedo, autor dos livros O cortiço e O mulato, e as de vários outros, na época do fim do Império de D. Pedro II e no início da República, em 1889.


O romance Menino de engenho, de José Lins do Rego (1901-1957), traduzido em várias línguas, onde o autor relembra, cheio de saudade, a sua infância de menino nordestino.


Reafirmo, senhor Aldemir, o meu romance Eu amo os dois é autobiográfico.


Fernando Jorge é jornalista, escritor, dicionarista e enciclopedista brasileiro. Autor de várias obras biográficas e históricas que lhe renderam alguns prêmios como o Prêmio Jabuti de 1962. É autor do livro “Eu amo os dois”, lançado pela Editora Novo Século.

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