Por Fernando Jorge
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Eu tenho um amigo que me disse:
– Fernando, como você sabe, namorei a minha esposa durante pouco tempo, antes de me casar com ela. O namoro foi curto e o noivado também, mas agora vamos nos separar.
Surpreso, perguntei:
– E por quê?
Resposta incisiva:
– Porque não estamos nos dando bem, discutindo, brigando.
O meu amigo pediu a minha opinião e eu a dei, embora não seja especializado em questões de amor:
– Acho que o namoro entre vocês dois, antes de se casarem, devia ter sido mais longo e o noivado também. Você me confessou, quando a conheceu, sentiu-se logo atraído, sexualmente, pela beleza física dela. E a sua esposa, em relação a você, sentiu a mesma coisa. O namoro e o noivado de ambos durou pouco, os dois erraram, pois os namorados devem casar primeiro as suas almas e depois os seus corpos.
Aí o meu amigo perguntou:
– Mas Fernando, existe ou não existe o amor físico forte, imperativo.
Esclareci calmamente:
– Sim, existe, contudo é efêmero, está sujeito à ação destruidora do tempo, este “veloz predador das coisas criadas”, na definição de Leonardo da Vinci. O tempo destrói tudo que é físico, material. O corpo do ser humano, no decorrer do tempo, vai se modificando, a beleza física desaparece, surgem as rugas e até o reumatismo, o andar vacilante. O tempo é um desenhista que faz um belo desenho e depois o modifica, transformando rosas em espinhos, brasas em gelo, perfumes embriagadores em matérias fedorentas...
Ouvindo tais palavras, o meu amigo admitiu, com olhar triste:
– É verdade, sem o casamento das almas, o tempo destrói o casamento dos corpos.
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Fernando Jorge é jornalista, escritor, dicionarista e enciclopedista brasileiro. Autor de várias obras biográficas e históricas que lhe renderam alguns prêmios como o Prêmio Jabuti de 1962. É autor do livro “Eu amo os dois”, lançado pela Editora Novo Século.
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