Na busca por um novo treinador, o Corinthians enfrenta o dilema da falta de opções
- Roberto Maia
- 23 de abr.
- 2 min de leitura
Atualizado: 30 de abr.
Por Roberto Maia
A recente saída de Ramón Díaz do Corinthians trouxe à tona um problema crônico no futebol brasileiro: a escassez de novos talentos na função técnica. Mais uma vez, o clube alvinegro se viu recorrendo a velhos conhecidos do mercado, reforçando um ciclo que parece não ter fim.

Tite, ex-técnico multicampeão pelo clube, foi o primeiro nome cogitado. Sua identificação com o Timão e o histórico vitorioso, incluindo o Mundial de 2012, fazem dele uma escolha natural para acalmar os ânimos da torcida. No entanto, sua recusa, motivada por questões de saúde mental deixou o clube sem sua primeira opção.
Na ausência de Tite, emergiu Dorival Júnior como candidato principal. Embora tenha experiência em grandes clubes nacionais, sua passagem pela Seleção gerou questionamentos sobre sua capacidade de implementar um projeto ambicioso. A valorização de seu nome parece mais relacionada à escassez de opções do que a seus méritos recentes.
Essa dificuldade do Corinthians em encontrar alternativas viáveis expõe uma realidade alarmante: o futebol brasileiro está preso num círculo vicioso de dependência de técnicos veteranos. Enquanto mercados estrangeiros investem em metodologias inovadoras e desenvolvimento de jovens treinadores, permanecemos reféns dos mesmos nomes, com as mesmas ideias, por décadas.
O problema é estrutural. Nossa cultura imediatista não permite que projetos de longo prazo floresçam. A pressão por resultados imediatos faz com que dirigentes busquem segurança em nomes conhecidos, mesmo quando suas ideias já não refletem as tendências do futebol moderno. Poucos clubes têm coragem de apostar em um nome promissor e dar-lhe tempo para implementar sua visão.
Os programas de formação de treinadores no Brasil também deixam a desejar. Enquanto na Europa existem centros especializados em desenvolvimento técnico e tático, nossos treinadores muitas vezes dependem apenas da experiência empírica. A falta de investimento nesta área cria um abismo entre nossos profissionais e aqueles formados em mercados mais avançados.

A busca desesperada do Corinthians por um novo comandante é apenas um sintoma de uma doença maior. O clube, assim como tantos outros, se vê obrigado a escolher entre opções limitadas, perpetuando um modelo que não favorece a inovação e a evolução tática do futebol brasileiro.
A solução passa por mudanças profundas na mentalidade do futebol nacional. É necessário investir na formação contínua de treinadores, dar oportunidades a novos talentos e, principalmente, ter paciência para que projetos de médio e longo prazo possam se desenvolver adequadamente.
Enquanto continuarmos presos a essa dinâmica, veremos repetidamente o mesmo filme: clubes como o Corinthians disputando os mesmos técnicos veteranos, enquanto uma geração inteira de potenciais renovadores permanece na sombra, sem chances de mostrar seu valor.
O futebol brasileiro precisa urgentemente olhar para o futuro na beira do campo. Caso contrário, continuaremos dependentes de um punhado de nomes consagrados, enquanto o mundo evolui e nos deixa para trás. A situação do Corinthians é apenas o reflexo de um problema muito maior que afeta todo o futebol nacional.

Roberto Maia é jornalista e cronista esportivo. Escritor e editor do portal travelpedia.com.br
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