Por Fernando Jorge
É um conselho que dou aos amigos leitores: não se irritem diante de pessoas burras. Sim, porque o burro não tem culpa de ser burro, como o camelo de ser camelo, a cobra de ter veneno, o mosquito de picar, o porco de gostar da lama, o macaco de pular. Cada um com a sua natureza.
A burrice só terá cura no dia em que a medicina conseguir o transplante de cérebros, substituir os miolos do cérebro de uma pessoa burra pelos miolos de uma pessoa inteligente. Enquanto não acontecer isto, precisamos aguentar as burrices de vereadores, deputados, senadores, governadores e até de presidentes burros.
Nunca os burros me irritam. Só me divertem. Aliás, eu amo os burros por causa disso.
Às vezes eu vejo tanta burrice em nosso país, mas tanta, tanta, que sinto vontade de chamá-lo não de Brasil e sim de Burrolândia, ou, devido aos nossos políticos safados, corruptos, de Corruptolândia.
Vejamos alguns tipos de burros existentes no Brasil, aliás, na Burrolândia.
O burro desconfiado, ou melhor, desconfiadíssimo. Excesso de desconfiança é burrice, mas falta de desconfiança também é.
O burro vaidoso, que gosta de se exibir, de zurrar, sacudir o rabo, soltar coices. Atua em toda parte, nas ruas, nas lojas, nos bares, nos restaurantes, nos shoppings.
O burro porco, fedido. Ele não gosta de tomar banho, alegando que a água pode enferrujar a sua saúde de ferro.
O burro bondoso. Zurrra em todos os momentos, sem nos prejudicar, fazer o mal.
O burro perverso, useiro e veseiro na tarefa de xingar, humilhar, maltratar pessoas inteligentes.
O burro burríssimo. É tão burro que jamais deixa de ser burríssimo em todos os segundos, minutos e horas. Em algumas palestras dá a impressão de ser um palhaço fingindo ser burro.
O burro invejoso. Um desses burros, metido a escritor, chegou perto de mim e disse:
– Detesto o seu romance Eu amo os dois, não vale nada.
Respondi calmo, sorrindo:
– Se você tivesse gostado dele, eu me sentiria ofendido.
Fernando Jorge é jornalista, escritor, dicionarista e enciclopedista brasileiro. Autor de várias obras biográficas e históricas que lhe renderam alguns prêmios como o Prêmio Jabuti de 1962. É autor do livro “Eu amo os dois”, lançado pela Editora Novo Século.
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