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Meu grande e querido amigo Ronaldo Côrtes

Foto do escritor: Redação JBARedação JBA

Por Fernando Jorge

Ronaldo Cortês em evento de 2010

Eu tive a honra e a satisfação de escrever o prefácio da segunda edição do belo livro “Vamos viver!”, de Ronaldo Cortês, publicado pela Editora Novo Século, dirigida por um brasileiro culto e inteligente, Luiz Vasconcelos. Aconselho os meus leitores a ler este livro. Declarei no prefácio, entre outras coisas:


As leis da hereditariedade existem. Não cometeu nenhum erro o sociólogo Oliveira Viana quando afirmou: 'Nós todos não somos senão uma coleção de almas que nos vem do infinito do tempo'.”


A audácia dos Côrtes bandeirantes permanece nas veias do jornalista Ronaldo Côrtes. Só mesmo com essa audácia, porém colocada a serviço da cultura, ele poderia ter expandido a sua majestosa rede de jornais. E ao criar em 1960 o troféu Bandeirantes, esse homem dinâmico nos deu ainda mais a certeza de descender daqueles três arrojados bandeirantes que tinham o seu sobrenome...


Reafirmo, as leis da hereditariedade estão vivas. A fé inquebrantável dos nobres portugueses Manuel Côrtes e Simão Antunes nos valores espirituais, continua a palpitar no descendente de ambos, Ronaldo Côrtes. Fé que resplandece nas lindas crônicas do seu livro “Vamos Viver”. Nesta obra cujo título já é um estímulo, o autor condena o materialismo e valoriza o ser humano. Exalta o amor, a lealdade, a fraternidade. Psicólogo nato, observador lúcido e isento de paixão dos aspectos negativos das almas sombrias, ele tem a rara capacidade de ver além das aparências. Do seguinte trecho de uma de suas crônicas, eu posso extrair, por exemplo, a inspiração para escrever um romance dostoiewskiano:


“O real pecado é aquele que faz alguém sofrer, que causa prejuízo às pessoas, não prejuízos materiais, mas sim de fundo espiritual, aquele que tira o brilho dos olhos das pessoas, aquele que faz com que não se olhem mais nos olhos, aquele que quebra fantasias.”

Estas palavras de Ronaldo Côrtes são tragicamente verdadeiras. Quem destrói por maldade as ilusões de uma alma delicada, inocente, perpetra assassinato. Trata-se de um crime que não está definido no Código Penal. Só Deus, após a morte do destruidor de sonhos, poderá julgá-lo e exarar a sentença.


Ronaldo Côrtes conhece a natureza humana e prova isto neste livro repleto de finas análises, nascido não apenas do seu cérebro, mas também do seu grande coração. Sim, Ronaldo a conhece, e tão bem como o clérigo Henry Ward Beecher (1813-1887), pai da seguinte frase:


“Há muita gente que imagina que o domingo é, uma esponja que limpa todos os pecados da semana." ("There are way many people who think that Sunday is a sponge to wipe out all the sins of the week”).

Este livro de Ronaldo Côrtes contém os pensamentos sutis de uma alma nobre, inconformada com as manifestações de ruindade e os julgamentos injustos. Leiam o que ele escreveu sobre as pessoas idosas:


“Velho é um pano rasgado, um automóvel cuja carroçaria está podre e o motor estragado, e mesmo um automóvel com muitos anos, porém conservado, deve ser chamado de antigo".


Após dizer isto. Ronaldo acrescenta:


“Um ser humano jamais pode ser chamado de velho. Esta palavra é agressiva, deprimente e, fere sensivelmente aqueles que passaram por essa vida, andam, falam e sentem como todo mundo”.

A rigor, o coração de Ronaldo Côrtes é o de uma criatura hipersensível. Sua alma é como uma antena que, a contragosto, capta as mesquinharias do ser humano. Se Deus concedesse a Ronaldo o dom de retirar dos nossos semelhantes o ódio, a inveja, a traição, a vingança, o despeito, as ingratidões, em suma, as torpezas, ele se sentiria o homem mais feliz de todos os tempos.


Fernando Jorge é jornalista, escritor, historiador, biógrafo, crítico literário, dicionarista e enciclopedista brasileiro, Autor de várias obras biográficas e históricas que lhe renderam alguns prêmios como o Prêmio Jabuti de 1962. É autor do livro “Eu amo os dois”, que acaba de ser lançado pela Editora Novo Século.

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