Por Paulo Panayotis
Paris, França. “Bon jour (bom dia). Será que você poderia deixar uma garrafa de água na minha suíte? Pardon, Monsieur (desculpe, senhor), mas este pedido deve ser feito na recepção”. O diálogo aconteceu há cerca de duas semanas em um dos hotéis mais luxuosos e almejados de Paris: O Le Meurice.
Mais que um cinco estrelas com tradição e alto luxo, ele pertence a prestigiosa categoria de hotéis palácio de Paris. Hotéis palácio na França obedecem a diversos quesitos como localização, serviço, relevância histórica, entre outros. Pois bem, eu estava hospedado em uma das principais suítes, convidado pelo hotel. Do meu ponto de vista, a resposta da “gentil” camareira seria impensável e até mesmo impossível antes da pandemia de Covid19. Apesar de muito educada, a funcionária não poderia se negar a atender a um pedido tão simples, tão corriqueiro, tão banal.
Explico: pela história do Le Meurice, todos os funcionários, especialmente uma camareira, deveriam ter condições de atender pedidos simples como este. Antes da pandemia, já havia ficado em outros hotéis Palácio de Paris, como o Mandarin Oriental e o eterno Plaza Athéneé. Verdade seja dita, preciso retornar pós pandemia para saber se isso também está ocorrendo por lá ou foi somente uma falha do Le Meurice. Mais! Havia sido convidado pelo hotel para um jantar em meu eterno restaurante Le Dali, dentro do Le Meurice. Após dois dias fiz o check out sem saber que havia sido marcado um dia para o jantar. Ninguém me informou, nem mesmo a gerente do departamento de Marketing, com quem fiz uma longa visita às dependências do palaciano Le Meurice. Em minha recente viagem pela capital francesa, notei o mesmo padrão de procedimento em vários outros hotéis onde fiquei hospedado. Todos eles, aliás, bem mais caros do que antes da pandemia.
“Estamos com uma dificuldade muito grande de conseguir mão de obra qualificada” afirma Madame Bahler, proprietária do Hotel Le Littré, na Rua Litté,9, em Paris. No pós pandemia, completa ela, percebemos que muita gente não quis mais retornar ao ritmo alucinado com o qual a maioria dos hotéis funcionavam, não só em Paris, quanto em todo o mundo. Verdade verdadeira! Muitos se acostumaram com o dinheiro que o governo ofereceu para a grande maioria dos trabalhadores franceses enquanto permaneciam em casa. Outros, creio eu, perceberam que há vida mais interessante do que os intermináveis finais de semana de plantão. Outros ainda, notaram, chocados, que eram mortais e pensaram à moda francesa: “por que trabalhar tanto assim se um dia todos iremos embora daqui?”.
Junte-se a isso a demanda reprimida de milhões de turistas que deixaram de viajar por mais de dois anos e a volúpia dos investidores em hotéis em recuperar, rapidamente, os prejuízos causados por tanto tempo sem clientes. Surge aí uma luz sobre o que está ocorrendo. Senti o mesmo em Londres, onde fiquei hospedado por dois dias em um hotel quatro estrelas no bairro “posh” (chic) de Kensington. Nada a reclamar do serviço do hotel a não ser que ele tinha muitas escadas – sem elevador – e de que não havia nenhum funcionário para “ajudar” a subir e descer com as malas. Os preços, no entanto, tiveram inflação em libra esterlina. “Estamos fazendo o máximo para que nossos clientes, muitos deles brasileiros, não sintam essa queda no atendimento, conclui Madame Bahler, do Le Littré. De fato, exceção à regra, um dos meus hotéis preferidos em Paris me ofereceu, mais uma vez, atendimento impecável: café da manhã, serviços, funcionários que falam português, enfim, tudo perfeito. Fica uma dúvida: se o Le Littré, um excepcional quatro estrelas no coração de Paris, na “Rive Gauche” pode, porque os outros, mais caros e badalados, não podem? “O boi engorda à vista do dono, arremata Madame Bahler. D’accord, madame, de acordo!
Jornalista esteve no Hotel Le Meurice a convite de Sahão Marketing & Consultoria e no Hotel Le Litré a convite da CC Hotels e viajou com seguro viagem Universal Assistance e chip A Casa do Chip.
Fotos: Paulo Panayotis & Adriana Reis
Paulo Panayotis é jornalista especialista em turismo, mergulhador e fundador do Portal OQVPM - O Que Vi Pelo Mundo. Mora na Europa, tem passaporte carimbado em mais de 50 países e viaja com patrocínio e apoio Avis, Travel Ace e Alitalia. O jornalista se hospedou a convite do grupo Maisons & Hotels Sibuet representado no Brasil pela AD Comunicação
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