Eu não discuto com burros, loucos e bêbados
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Eu não discuto com burros, loucos e bêbados

Por Fernando Jorge

Imagem: Freepik

Eu não discuto com burros, loucos e bêbados. Siga o meu exemplo, amigo leitor, e nunca se irrite ao ouvir o que eles falam. Perder a paciência diante dessa gente é insensatez, como a de condenar o mugir da vaca, o coinchar do porco, os cacarejos das galinhas, os assobios, as piruetas e as cambalhotas dos macacos.


Uma característica da pessoa burra é a teimosia. O burro bípede, isto é, humano, mostra-se teimoso como um asno que para no meio de uma estrada e não quer andar. Vou dar aqui um exemplo. O meu pai se chamava Salomão Jorge, era um brasileiro de sangue árabe, mas um fulano insistia em lhe dizer:


– O senhor é turco.

Meu pai negava, porém o fulano era persistente:


– O senhor é turco porque tem nome de turco.


E esse sujeito não desistia de achar que ele era turco. Meu pai afirmou:


– Meu filho, este homem foi o homem mais burro que eu conheci na minha vida.


Fiz o seguinte comentário:


– Se você entregar a ele uma coroa, a de Rei do Burros, sabe como deveria ser essa coroa?


Fiz uma pausa e expliquei:


– Teria de ser feita de capim, mas há uma inconveniência, esse sujeito burríssimo logo devoraria a coroa.


Eu e meu amado pai, o grande poeta Salomão Jorge, soltamos gargalhadas tão sonoras como o grito de D. Pedro I, o “Independência ou morte!” na colina do Ipiranga...


Falarei agora da loucura. Conheci um insano que quando me via, perguntava:


– Sou ou não sou mais bonito que o Michel Temer?


Resposta minha, invariável:


– Você é lindo, divino, maravilhoso. Se eu fosse mulher, ficaria apaixonado por você.


E ele feliz, risonho, me abraçando:


– Isto mesmo. E o Michel Temer não gosta de mim, porque sou mais bonito que ele.


Os bêbados se assemelham aos loucos. Parecem membros de uma só família. Conheci no bar do restaurante Rodeio, há cerca de vinte anos, um pinguço que me disse:


– Sou o maior cantor do Brasil, nem o Roberto Carlos canta como eu, pois canto com fogo.


De fato, tinha fogo. Se eu acendesse um fosforo e o jogasse em cima dele, esse bêbado repleto de álcool se incendiaria, transformando-se numa fogueira...



Fernando Jorge é jornalista, escritor, dicionarista e enciclopedista brasileiro. Autor de várias obras biográficas e históricas que lhe renderam alguns prêmios como o Prêmio Jabuti de 1962. É autor do livro “Eu amo os dois”, lançado pela Editora Novo Século.

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