Por Fernando Jorge

O sucesso do meu romance autobiográfico Eu amo os dois, lançado pela editora Novo Século, está me trazendo problemas de ordem psicológica, um atrás do outro, pois não paro de receber e-mails, cartas, telefonemas das leitoras da obra, com perguntas que me deixam confuso, atrapalhado. Ah, se o meu caro amigo Ronaldo Côrtes, sutil e arguto psicólogo, agora pudesse me ajudar no fornecimento das respostas a essas leitoras! Eu ficaria mais aliviado, sem dúvida.
Chegou às minhas mãos a carta de uma leitora da cidade Santos, dizendo o seguinte:
“No romance Eu amo os dois, o senhor conta que a jovem Elza amava de modo igual o primo e o senhor. Pois bem, estou amando o meu noivo e o pai dele, de modo igual. Eu até seria capaz de me casar com os dois! Sinto-me angustiada. Pergunto: como devo proceder?”
Ao concluir a leitura da carta, fiquei embaraçado. Primeiro, porque não sou autoridade em assuntos dessa natureza. Segundo, porque gosto de ajudar as minhas leitoras, dando-lhes bons conselhos, sem me considerar um sábio infalível.
O escritor austríaco Stefan Zweig (1881-1942), é autor de uma novela intitulada Confusão de sentimentos. Nessa novela o personagem se sente confuso diante de um amor forte, sincero, porém considerado anormal ou imoral. É o mesmo caso da minha leitora. E indago: quem sou eu, homem imperfeito, que já errou muito na vida, quem sou eu para dar conselhos? Um sábio, como o rei Salomão da Bíblia? Pobre de mim! Gostaria de possuir a sabedoria de Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona, o filosofo cristão das Confissões e de A cidade de Deus, doutor da Igreja latina, mas não tenho a sua alma pura, a sua santidade.
Então, Fernando, que conselho você pode dar para a sua inquieta leitora? Confesso, nenhum. Ou melhor, pela ajuda, numa oração, à alma de Santo Agostinho. Acredito, essa alma limpa, cheia de luz, poderá ajudá-la, iluminá-la, tirar as sombras, as trevas do espírito angustiado da minha prezada leitora...

Fernando Jorge é jornalista, escritor, dicionarista e enciclopedista brasileiro. Autor de várias obras biográficas e históricas que lhe renderam alguns prêmios como o Prêmio Jabuti de 1962. É autor do livro “Eu amo os dois”, lançado pela Editora Novo Século.
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