Novos estudos confirmam que escrever sobre as próprias emoções ajuda na recuperação
Da Redação
A escrita terapêutica, que lá fora chamada de Expressive Writing (Escrita Expressiva), vai além de prosa, poesia e de seguir normas gramaticais é terapia que consiste em escrever livremente sobre os sentimentos, sem se preocupar com estrutura do texto, rimas ou regras gramaticais, colocando para fora tudo o que está sentindo como uma maneira de se sentir melhor e seguir em frente.
Esse é um excelente recurso que pode ser usado momentos de estresse, em busca alívio e calma para reorganizar pensamentos. Também tem sido adotada como forma de tratar doenças ligadas ao nosso emocional, como o câncer. Um estudo da Universidade de Baylor (EUA) com 48 portadores de câncer de testículo revelou que escrever sobre as emoções relacionadas à doença acelerou a recuperação dos participantes. Como justificativa, os cientistas levantaram a hipótese de que, como a escrita auxiliou no controle do estresse ocasionado pela enfermidade, o sistema imunológico entrou em equilíbrio.
Em uma pesquisa publicada em 2016, por exemplo, a Universidade de Waterloo, no Canadá, mostrou a eficiência da técnica no controle do peso. Nele, a psicóloga Christine Logel demonstrou que as mulheres convidadas a escrever sobre seus sentimentos e valores perderam, em média, 3,4 quilos, enquanto as que não participaram da oficina ganharam cerca de 2,7 quilos.
No Rio Grande do Sul, a seção brasileira da International Stress Management Association, organização internacional para o controle do estresse, indica a escrita terapêutica para pacientes que não conseguem lidar com o acesso de raiva e defende que escrever tem efeitos positivos naquelas pessoas com dificuldade de falar sobre uma determinada experiência sem se descontrolar ou ficar extremamente emocionada.
Escrita terapêutica que virou livro
Josiane Marques Sereno, técnica em enfermagem, mesmo sem intenção fez uso da técnica. Apesar de sempre ter gostado de ler e escrever, nunca conseguia colocar seus anseios, emoções e reflexões no papel. "Tentava, mas a escrita não desenvolvia. Eram muitos pensamentos guardados dentro de mim que não conseguia expor e compartilhar. Acho que era o pré-julgamento ou até o desprezo com os sentimentos. Então me fechava e engavetava tudo isso", conta.
Eventualmente, chegando de um plantão hospitalar de 12 horas, no qual lutou durante aquele longo tempo com algo que a incomodava intimamente, chegou em casa, pegou um caderno e tentou escrever. "Queria colocar para fora, nem se fosse apenas para ouvir o som das lágrimas caindo. Entretanto, além das lágrimas, saíram todos aqueles cruéis sentimentos que me sufocavam, e eles saíram exatamente da maneira que eu estava sentindo. Desde então, costumo falar que agradeço a ansiedade, pois ela veio com toda força e furor, mas também fez a dor extravasar a ponto de dar início a algo que eu nunca tinha cogitado acontecer: Escrever um livro", conta.
Assim nasceu Palavras Não Ditas, Pensamentos Escritos, livro de Josiane Marques Sereno, publicado pela Editora Saramago. "Nos momentos difíceis a escrita foi a minha maior fuga e nos momentos bons também. Portanto deixo extravasar toda a alegria em palavras". De acordo com a técnica em enfermagem e escritora, os textos falam principalmente sobre superação, coragem e força para nunca pararmos de acreditar e sonhar. "Quero que o leitor sinta que não está sozinho e que ninguém é fraco por chorar demais, por tentar carregar o mundo nas costas", comenta.
Escrita além do papel
Cientistas da Universidade de Haifa, em Israel, descobriram que a técnica da escrita terapêutica, quando usada em blogs pode ser tão ou mais eficaz que no papel. Os pesquisadores chegaram à conclusão após analisar a reação ao experimento por eles organizado com a participação de 161 adolescentes com ansiedade e fobia social. Os jovens foram divididos em grupos que receberam orientações distintas. Alguns, por exemplo, deveriam escrever em blogs abertos, com comentários, e outros, em blogs fechados.
Depois de dez semanas escrevendo pelo menos duas vezes semanalmente, todos apresentaram melhora na autoestima, na autoconfiança e na capacidade de se sentir confortável em situações sociais que evitavam antes de iniciar a prática da escrita. Mas aqueles que escreveram em blogs com espaço para comentários manifestaram melhora mais significativa.
Dicas para começar a usar a escrita terapêutica
1 - Escreva no mínimo 20 minutos por dia durante quatro dias consecutivos.
2 - Sobre o que você escolhe escrever deve ser extremamente pessoal e importante para você.
3 - Escreva continuamente. Portanto, não se preocupe com pontuação, ortografia e gramática. Se você não tiver o que dizer, desenhe uma linha ou repita o que já escreveu.
4 - Escreva para si mesmo. Você pode destruir ou ocultar o que está escrevendo. Este exercício é apenas para os seus olhos. Mas se sentir necessidade de compartilhar, faça.
5 - Espere sentimentos pesados: muitas pessoas sentem-se um pouco tristes ou deprimidas após uma escrita expressiva, principalmente no primeiro dia.
Comments