Por Fernando Jorge
Provei no meu livro Vida e obra do plagiário Paulo Francis – O mergulho da ignorância no poço da estupidez, lançado pela Geração Editorial e já na segunda edição, quase esgotada, que ele, Francis, apoderava-se de frases e de pensamentos alheios e os publicava como sendo de sua autoria. Alberto Dines garantiu: este meu livro causou a morte do Francis, juntamente com o processo da Petrobrás. Será verdade? Ora, se é verdade, gerei um “livro homicida”.
Mas deixando de lado o sarcasmo, afirmo que sou um escritor capaz de facilmente achar plágios. Outro dia eu descobri de onde o Vinícius de Morais, poeta de talento, tirou a ideia ou a inspiração para escrever o seu famoso “Soneto de fidelidade”. Aqui o reproduzo:
“De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa lhe dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.”
A ideia da parte final deste soneto, um dos mais belos da língua portuguesa, foi extraída do seguinte verso do poeta Henry de Régnier:
“L’amour est éternel tant qu’il dure”
(“O amor é eterno enquanto dura”)
Talvez alguém objete: e se a poesia do Vinícius é anterior ao verso lírico de “La lune jaune”? Respondo: não é anterior porque o “Soneto de fidelidade” foi publicado pela primeira vez no número 12, de 2 de novembro de 1941, do suplemento literário “Autores e Livros”, do jornal A Manhã, do Rio de Janeiro, com uma ilustração do desenhista Santa Rosa. E Henry de Régnier, informa um verbete da página 425 do segundo volume do Dictionnaire biographique des auteurs, dos editores Laffont - Bompiani, o sutil Henry de Régnier faleceu no dia 23 de maio do ano de 1936... Portanto o soneto do Vinícius apareceu cinco anos depois da morte do poeta francês.
Todavia, se o autor de Orfeu da Conceição era plagiário, o poeta pernambucano Antônio Peregrino Maciel Monteiro também foi. Ele é autor do soneto “Formosa”, no qual existem estes três versos:
“Mulher celeste, oh! anjo de primores!
Quem pode ver-te, sem querer amar-te?
Quem pode amar-te, sem morrer de amores?”
Agrippino Grieco me disse que o final deste soneto é um plágio dos dois seguintes versos do poeta espanhol José Zorrilla:
“Nadie te mira sin querer amarte,
y nadie te ama sin morir de amores!”
O romântico Zorrilla nasceu em 1817 e faleceu em 1893. Vindo ao mundo no ano de 1804, Maciel Monteiro expirou em 1868, mas não sabemos quando compôs o seu soneto. Zorrilla plagiou o brasileiro ou este plagiou o espanhol?
Fernando Jorge é jornalista, escritor, historiador, biógrafo, crítico literário, dicionarista e enciclopedista brasileiro, Autor de várias obras biográficas e históricas que lhe renderam alguns prêmios como o Prêmio Jabuti de 1962. É autor do livro “Eu amo os dois”, que acaba de ser lançado pela Editora Novo Século.
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