Por Fernando Jorge
Tenho um amigo que é muito desconfiado. Costumo dizer a ele:
– Falta de desconfiança é burrice, mas excesso de desconfiança também é.
Mas o meu amigo, embora seja muito desconfiado, é inteligente. Sua profissão: repórter de um dos mais lidos jornais de São Paulo. Esse meu querido amigo não para de me dizer, repete isto há anos:
– Maria Bethânia é o Caetano Veloso com roupa de mulher.
E o meu amigo explica:
– O Caetano Veloso inventou a Maria Bethânia. Ela é ele.
Costumo replicar, quando ele solta estas palavras:
– Você não está regulando bem, precisa consultar um psiquiatra, meteu na sua cabeça essa loucura e não quer largá-la.
Tranquilo, com voz firme, o meu amigo responde.
– Você já viu o Caetano Veloso e a Maria Bethânia juntos?
– Não, nunca vi, porém pelo fato de nunca os ter visto juntos, tal fato não significa que o Caetano Veloso é a Maria Bethânia...
O meu amigo então argumenta:
– Milhões de pessoas nunca viram em shows, em qualquer lugar, os dois formando um par de artistas.
Eu respondo, cheio de energia:
– Ouça, seu cabeça dura, não é porque milhões de pessoas nunca os viram juntos que o Caetano Veloso é a Maria Bethânia.
Certa vez, após eu ouvir o meu amigo repetir a sua obsessão, ele perguntou:
– O que você sabe sobre a Maria Bethânia?
Informei tranquilamente:
– A baiana Maria Bethânia nasceu em 1946, na cidade de Santo Amaro da Purificação e iniciou a sua carreira artística no ano de 1963, atuando na peça teatral Boca de ouro, de Nelson Rodrigues, musicada pelo irmão, o Caetano Veloso. Sei disso desde o tempo em que fui jurado do programa de televisão do Flávio Cavalcanti.
Argumento do meu amigo:
– Eis aí uma prova de que a Maria Bethânia é o Caetano Veloso com roupa de mulher. Para ganhar mais dinheiro com a peça do Nelson Rodrigues, ter dupla participação, resolveu se vestir como mulher e inventou a cantora Maria Bethânia.
Amigo leitor, confesso, não dei uma pancada no meu amigo, por este simples motivo: não bato em loucos.
Fernando Jorge é jornalista, escritor, dicionarista e enciclopedista brasileiro. Autor de várias obras biográficas e históricas que lhe renderam alguns prêmios como o Prêmio Jabuti de 1962. É autor do livro “Eu amo os dois”, lançado pela Editora Novo Século.
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