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Foto do escritorRedação JBA

Eduardo Kobra inicia mural no Minhocão

O muralista brasileiro iniciou seu primeiro mural na região do Elevado Presidente João Goulart, em um prédio situado à altura da rua Traipu, nº. 500


O muralista brasileiro iniciou seu primeiro mural na região do Minhocão, em São Paulo. O trabalho, com 33 metros de altura por sete metros de largura, na empena de um prédio situado à rua Traipu, nº. 500, deve estar concluído por volta do dia 14 de novembro. De acordo com o artista, será mais autobiográfica de todas as suas obras. “O mural é inspirado em um momento muito difícil para mim, que começou a ser superado quando senti a mão de Deus. Foi algo que me ajudou e que me ampara até hoje”, diz.


Kobra afirma que o mural, é particular, mas também universal. “Serve para todas as pessoas, de qualquer fé, que passam por dificuldades como depressão, solidão, dificuldades econômicas, bebidas e drogas”. E complementa: “espero que nesses tempos de pandemia e mesmo depois que tudo isso terminar, o mural também inspire as pessoas a resgatarem a bondade e serem mais acolhedoras e solidárias uma com as outras”.

Sobre Eduardo Kobra

Recentemente, Eduardo Kobra, 45 anos, entregou em Santos, no litoral de São Paulo, o mural “Coração Santista”, de 800 metros quadrados. A obra foi inaugurada no dia 23 de outubro, data do aniversário de 80 anos de Edson Arantes do Nascimento, Pelé. No mural, há quatro cenas, todas situadas dentro dos arcos (ou círculos) das muretas de Santos, um dos mais conhecidos símbolos da cidade: Pelé (o grande homenageado do mural), o Bonde, a Bolsa do Café e Um Estivador no Porto de Santos.


Pouco antes, o muralista lançou um painel sobre o Líbano, país marcado pela recente tragédia ocorrida em Beirute. A tela foi leiloada e foram feitas serigrafias para serem sorteadas entre pessoas que fizessem doações para o Líbano (o valor total a arrecadação será divulgado ainda em novembro). Também durante a pandemia, Kobra fez o painel “Coexistência”, onde mostrava crianças de cinco religiões – budismo, cristianismo, islamismo judaísmo e hinduísmo – em oração e vestindo máscaras. Uma Serigrafia da obra foi sorteada entre as pessoas que fizeram doações. Com o valor arrecadado foram produzidos e distribuídos 16.620 kits.


Em setembro, o artista urbano finalizou um mural dentro da Escola Estadual Professor Raul Brasil, em Suzano, na Grande São Paulo. O mural faz parte de um projeto idealizado por ele para a revitalização da escola, onde ocorreu um massacre em março de 2019, quando dois ex-estudantes armados invadiram o espaço. Além do mural pintado por Kobra dentro do pátio da escola, alunos participaram de um concurso através da Secretaria de Estado da Educação, com o tema “Paz nas Escolas” e enviaram desenhos. As obras escolhidas foram pintadas no muro em frente à fachada da escola. Para as pinturas nas outras três laterais do muro, foram convidados diversos artistas urbanos.


Kobra é um expoente da neo-vanguarda paulistana. Começou como pichador, tornou-se grafiteiro e hoje se define como muralista. Seu talento brota por volta de 1987, no bairro do Campo Limpo com o pixo e o graffiti, caros ao movimento Hip Hop, e se espalha pela cidade e pelo mundo. Com os desdobramentos que a arte urbana ganhou em São Paulo, ele derivou - com o Studio Kobra, criado em 95 - para um muralismo original - inspirado em muitos artistas, especialmente os pintores mexicanos e norte-americanos, beneficiando-se das características de artista experimentador, bom desenhista e hábil pintor realista. Suas criações são ricas em detalhes, que mesclam realidade e um certo "transformismo" grafiteiro.


Muitos críticos afirmam que a característica mais marcante de Kobra é o domínio do desenho e das cores. Mas o que é mais fundamental para o artista é o olhar. Kobra foi desde cedo apresentado às adversidades da vida. Viu amigos sucumbirem às drogas e à criminalidade. Alguns foram presos. Outros tantos perderam a vida. Foi o olhar que o salvou.


Kobra é autor de projetos como "Muro das Memórias", em que busca transformar a paisagem urbana através da arte e resgatar a memória da cidade; Greenpincel, onde mostra (ou denuncia) imagens fortes de matança de animais e destruição da natureza; e “Olhares da Paz”, onde pinta figuras icônicas que se destacaram na temática da paz e na produção artística, como Nelson Mandela, Anne Frank, Madre Teresa de Calcutá, Dalai Lama, Mahatma Gandhi, Martin Luther King, John Lennon, Malala Yousafzai, Maya Plisetskaya, Salvador Dali e Frida Kahlo.  


Em meio ao caos urbano, buscou resgatar o patrimônio histórico que se perdeu. Em um contexto repleto de desigualdade social e injustiças, buscou se inspirar em personagens e cenas que servem de exemplo para um mundo melhor. 


Hoje, os murais de Kobra estão em cerca de 35 países e em diversas cidades e estados brasileiros – como “Etnias – Todos Somos Um”, no Rio de Janeiro, “Oscar Niemeyer”, em São Paulo; “The Times They Are A-Changin” (sobre Bob Dylan), em Minneapolis; “Let me be Myself” (sobre Anne Frank), em Amsterdã; “A Bailarina” (Maya Plisetskaia), em Moscou; “Fight For Street Art” Basquiat e Andy Warhol), em Nova York; e “David”, nas montanhas de Carrara. Em todos os trabalhos, o artista paulistano busca democratizar a arte e transformar as ruas, avenidas, estradas e até montanhas em galerias a céu aberto.  Inquieto, estudioso e autodidata, também faz pesquisas com materiais reciclados e novas tecnologias, como a pintura em 3D sobre pavimentos. Em 2018, pintou 20 murais nos Estados Unidos, 18 deles em Nova York.


Cada vez mais conhecido, Kobra fica, é claro, orgulhoso quando vê uma multidão que observa um de seus murais, mas costuma dizer que o que o comove de verdade é descobrir alguém que para no meio da correria da cidade para observar, mesmo que por um minuto, os detalhes dessa obra. Apesar dos murais monumentais, Eduardo Kobra faz sua arte para despertar a consciência e a sensibilidade de cada um de nós.


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