Por Fernando Jorge
Quando eu era jurado do programa do Bolinha na TV Bandeirantes, apresentado aos sábados em rede nacional, um padre da Igreja a qual pertenço, a Igreja Católica, foi entrevistado por ele e declarou firmemente:
– Bolinha, devemos imitar a Bíblia, ser cem por cento tolerantes.
O apresentador voltou-se para mim e fez esta pergunta:
– Fernando Jorge, meu jurado, você concorda com esta afirmativa?
Olhei de modo firme o sacerdote e respondi de modo também firme:
– Discordo, e saliento com respeito, padre, sou católico como o senhor, católico praticante, mas a Bíblia não é cem por cento tolerante.
Ele respondeu:
– O senhor pode provar?
Tranquilo, sorrindo, expliquei:
– Padre, leio a Bíblia diariamente, há mais de trinta anos, e sei até de cor vários dos seus textos, nos quais ela não se mostra tolerante. Vou citá-los, o senhor poderá verificar.
Fiz uma pausa e prossegui:
– Além de não se mostrar tolerante com a hipocrisia, a Bíblia, condena com ardor a mentira.
Passei a citar os seguintes trechos do livro sagrado:
“O Senhor abomina um falso testemunho que profere mentiras” (Provérbios, 6-19)
“O falso testemunho não fica sem castigo, quem exala mentiras não escapará” (Provérbios, 19-5).
“Não inventes nenhuma mentira contra teu irmão, não inventes nenhuma mentira contra teu amigo” (Eclesiástico, 7-13).
“Mais vale um ladrão do que um mentiroso contumaz” (Eclesiástico, 20-27).
“A mentira é no homem uma vergonhosa mancha, não sai dos lábios das pessoas mal-educadas” (Eclesiástico, 20-18).
Após eu citar estas frases da Bíblia, o padre foi modesto e reconheceu:
– O senhor está certo, havia me esquecido destas palavras do livro sagrado.
Gostei da confissão e disse:
– Isto pode acontecer com pessoas sinceras, de bom caráter.
Fernando Jorge é jornalista, escritor, dicionarista e enciclopedista brasileiro. Autor de várias obras biográficas e históricas que lhe renderam alguns prêmios como o Prêmio Jabuti de 1962. É autor do livro “Eu amo os dois”, lançado pela Editora Novo Século.
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