Deixei muito deprimida a dona de uma editora
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Deixei muito deprimida a dona de uma editora

Por Fernando Jorge

Imagem: Maya Roberts

Quatro editoras lançam os meus livros, com várias edições, mas por ter ficado com pena de uma amiga, dona de modesta editora, resolvi ajudá-la a ganhar uma boa soma de dinheiro, antes do Natal. Essa minha amiga me disse:


– Fernando, preciso lançar um livro bem vendável, estou precisando muito de dinheiro. Está bem séria a minha situação econômica, o tutu me falta até para comer.


Cheio de pena, comovido, respondi:


– Várias editoras querem publicar o meu livro contra o Paulo Coelho, no qual provo, de maneira esmagadora, que ele insultou Jesus Cristo, dizendo que ele era “um boa vida”, gostava de beber, embriagar-se, tendo sido “politicamente incorreto”. E também provo isto: Paulo Coelho afirmou, numa entrevista concedida à revista Playboy, mostrar-se capaz de fazer ventar, chover e ficar invisível.


– E daí, Fernando? – perguntou a minha amiga, proprietária da modesta editora.


Respondi, pondo a mão no seu ombro:


– Vou deixar você tirar uma edição de três mil exemplares desse meu livro e fazer um empresário rico, meu amigo, comprar da edição mil exemplares, a fim de os dar como brinde de Natal aos seus amigos, clientes e acionistas.


A minha amiga me abraçou com os olhos úmidos, comovida, mas depois não quis aceitar a minha oferta, porque uma assessora, sem examinar o meu livro sobre o insultador de Jesus, aconselhou-a a não publicá-lo. Motivo: o Paulito Coelhito, escritor fraquito como um mosquito, poderia processá-la...


Quando a minha amiga soube que a obra contra o blasfemo é um sucesso, com centenas de exemplares vendidos, ela mergulhou num profundo estado de depressão, chora sem parar, emagreceu oito quilos. Coitada! Foi vítima de uma assessora burra, incapaz de discernir, de ver o erro, o absurdo, a estupidez, a difamação...


Fernando Jorge é jornalista, escritor, dicionarista e enciclopedista brasileiro. Autor de várias obras biográficas e históricas que lhe renderam alguns prêmios como o Prêmio Jabuti de 1962. É autor do livro “Eu amo os dois”, lançado pela Editora Novo Século.

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