Por Roberto Maia
O clássico entre Corinthians e Palmeiras realizado no último sábado, na arena Neo Química, válido pelo Brasileirão, mais uma vez colocou frente a frente os dois clubes rivais. Para quem não sabe, o Dérbi nunca será um jogo qualquer. E sempre terá consequências para o bem e para o mal. O time derrotado normalmente nunca sai impune.
Após a vitória palmeirense na casa do Timão, a torcida corinthiana protestou do lado de fora da arena. Pediu mais garra e determinação dos jogadores. E, lamentavelmente, as ameaças voltaram às redes sociais. Dessa vez a vítima foi o filho do lateral-direito Fagner, que falhou no lance que originou o gol do Verdão.
Na entrevista coletiva o treinador Vitor Pereira também pisou na bola. Ao ser perguntado se temia ser demitido ele perdeu o pouco de paciência que ainda tinha. Sem medir as palavras, respondeu de forma grosseira e irônica ao questionamento, que pode até ter sido provocativo, mas era pertinente diante dos resultados negativos contra o Flamengo na Libertadores e Atlético-GO na Copa do Brasil.
"Você deve estar a brincar comigo cara. Deve estar a brincar comigo com essa pergunta. Eu, nesta fase da minha vida, da minha carreira, ter medo de perder emprego? Sabe quanto dinheiro eu tenho no banco, amigo? Eu tenho a vida estabilizada, não preciso. Estou aqui no Corinthians. Se não estou no Corinthians, estou em um outro clube qualquer. Vou embora quando eu quiser", disse exaltado.
A resposta pegou muito mal entre a torcida do Corinthians. Falar que tem muito dinheiro no banco enquanto muitos torcedores gastam o pouco que ganham para comprar ingressos para os jogos do Timão, definitivamente não é uma boa.
A imprensa de Portugal já havia alertado os colegas brasileiros que Vitor Pereira não tolera provocações. Em outras ocasiões, em clubes pelos quais passou, já se irritou com perguntas de jornalistas.
A torcida corinthiana até agora vinha dando total apoio ao treinador português. Mas como o Dérbi pune os derrotados, muitos já começaram a pedir a demissão de Vitor Pereira e a questionar os seus métodos. Ele já não é mais o queridinho da Fiel.
Tanto que no dia seguinte ao clássico e ciente das consequências negativas das suas palavras na coletiva de imprensa, tratou de se explicar. Disse que veio treinar o Corinthians por paixão e não por dinheiro. Mas o fato é que ele é muito bem pago e não mentiu na resposta que deu. Mas não precisava falar o que disse.
Vitor Pereira tem contrato com o Corinthians até dezembro e recebe cerca de R$ 1,8 milhão para ele e sua comissão técnica. Certamente a maior parte desse valor vai para a sua já gorda conta bancária.
O presidente do Corinthians, Duílio Monteiro Alves, garante que não demitirá Vitor Pereira mesmo em caso de desclassificação da Copa do Brasil. Resta saber se o treinador terá paciência para cumprir o seu contrato até o final. Afinal, ele já deu sucessivas mostras de que está insatisfeito com a diretoria, com o elenco e com o calendário insano do futebol brasileiro. A saída de William após a derrota para o Flamengo parece ter sido a gota d’água.
As inevitáveis consequências do Dérbi sempre me fazem lembrar de uma frase eternizada no filme "Boleiros – Era Uma Vez o Futebol", de 1998, dirigido por Ugo Giorgetti. Em um diálogo, o treinador do Palmeiras, interpretado pelo ator Lima Duarte, diz à personagem vivida por Marisa Orth: “A senhora não sabe o que é um Palmeiras e Corinthians!”
Roberto Maia é jornalista e cronista esportivo. Iniciou a carreira como repórter esportivo, mas também dedica-se a editoria de turismo, com passagens por jornais como MetroNews, Folha de São Paulo, O Dia, dentre outros. Atualmente é editor da revista Qual Viagem e portal Travelpedia.
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