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Corinthians à beira do colapso financeiro. Bomba-relógio pulsa no coração do Parque São Jorge

Por Roberto Maia


A paixão da Fiel Torcida continua inabalável, mas o mesmo não se pode dizer das finanças do Sport Club Corinthians Paulista. O clube atravessa uma das fases mais críticas de sua história administrativa, mergulhado em uma dívida que já beira os R$ 2,5 bilhões. A crise financeira não é nova, mas os últimos números apresentados à torcida e ao Conselho Deliberativo escancaram uma realidade alarmante.


Enquanto a dívida do Corinthians ultrapassa R$ 2,5 bilhões, a Fiel Torcida segue lotando a Neo Química Arena, provando que sua paixão permanece inabalável mesmo diante da grave crise financeira que ameaça o futuro do clube. (Foto: Tino Simões)
Enquanto a dívida do Corinthians ultrapassa R$ 2,5 bilhões, a Fiel Torcida segue lotando a Neo Química Arena, provando que sua paixão permanece inabalável mesmo diante da grave crise financeira que ameaça o futuro do clube. (Foto: Tino Simões)

No dia 28 de abril, o Corinthians revelou um déficit de R$ 181,7 milhões no exercício de 2024, primeiro ano da gestão de Augusto Melo. Mesmo com uma arrecadação robusta de R$ 1 bilhão, impulsionada por vendas de jogadores (R$ 338,4 milhões), direitos de transmissão (R$ 295 milhões) e patrocínios e publicidade (R$ 253 milhões), as despesas astronômicas deixaram o clube em vermelho.


O que assusta é o tamanho do passivo. Segundo o parecer do CORI (Conselho de Orientação), o Corinthians viu sua dívida subir em R$ 829 milhões em apenas um ano, atingindo a marca de R$ 2,46 bilhões. O futebol profissional consumiu R$ 759,7 milhões, e apenas a folha salarial — incluindo encargos e benefícios — representou R$ 367,7 milhões. Some-se a isso os R$ 106 milhões em despesas administrativas e o quadro se agrava.


Mas como o clube chegou a esse ponto, mesmo com receitas bilionárias? A resposta passa por décadas de gestão temerária, investimentos mal planejados e custos operacionais descontrolados.


Desde a gestão de Alberto Dualib, o Corinthians passou a operar com déficits recorrentes. A chegada de Andrés Sanchez trouxe conquistas importantes dentro de campo, mas também resultou em investimentos vultosos, como a construção da Neo Química Arena e do novo Centro de Treinamento, que pesaram nas contas. Apesar de esses ativos representarem patrimônios relevantes, o modelo de financiamento, baseado em empréstimos e antecipações de receitas, se mostrou insustentável a longo prazo.


Coração do S. C. Corinthians Paulista, o Parque São Jorge esconde por trás de sua imponente fachada uma bomba-relógio financeira, com décadas de gestão temerária que comprometem o futuro da instituição centenária. (Foto: Tino Simões)
Coração do S. C. Corinthians Paulista, o Parque São Jorge esconde por trás de sua imponente fachada uma bomba-relógio financeira, com décadas de gestão temerária que comprometem o futuro da instituição centenária. (Foto: Tino Simões)

A sucessão de presidentes não conseguiu reverter o quadro. Ao contrário, em muitos casos, agravou o problema. A gestão Duílio Monteiro Alves, por exemplo, teria deixado uma dívida não contabilizada de R$ 191 milhões, descoberta apenas agora. Segundo o presidente Augusto Melo, sem esse passivo oculto, as contas de 2024 até indicariam um pequeno superávit. Mas esse tipo de "contabilidade criativa" apenas mascara a real dimensão da crise.


Esse cenário torna ainda mais paradoxal o fato de o clube ter registrado um crescimento expressivo nas receitas. O Corinthians modernizou sua gestão de marketing, firmou contratos sólidos de televisão e conta com uma torcida que consome, participa e gera receita com o programa Fiel Torcedor. Mesmo assim, gasta mais do que arrecada, em parte por causa do peso dos juros, da estrutura inflada e das contratações de impacto que nem sempre dão retorno esportivo ou financeiro.


Chegou a hora de encarar a realidade de frente. A dívida corintiana já é comparável à de grandes corporações. E, como em qualquer empresa em crise, é preciso agir com rigor e estratégia. Não há mais espaço para amadorismo ou decisões baseadas apenas na emoção.


A seguir, destaco algumas medidas urgentes que o clube deve considerar se quiser sair do buraco e reconstruir sua saúde financeira:


Reestruturação da dívida - O Corinthians precisa sentar com seus credores e renegociar. Alongar prazos, reduzir juros e buscar linhas de crédito com melhores condições deve ser prioridade. Um clube com a marca e o alcance do Corinthians ainda tem poder de negociação, mas o tempo é curto.


Corte de gastos e política de austeridade - Não se trata de abandonar a ambição esportiva, mas de gastar com inteligência. Revisar contratos, enxugar departamentos e eliminar despesas supérfluas são medidas urgentes. O futebol precisa continuar sendo competitivo, mas sem comprometer o futuro financeiro da instituição.


Gestão profissional e transparente - O clube precisa de governança moderna, com metas de desempenho, relatórios públicos e um sistema transparente de prestação de contas. Só assim será possível reconquistar a confiança de investidores, patrocinadores e, principalmente, do torcedor.


Fortalecimento das categorias de base - Investir na formação de jogadores é rentável e estratégico. Além de reduzir a necessidade de contratações caras, a base pode gerar grandes receitas com futuras vendas. Exemplos bem-sucedidos não faltam no próprio futebol brasileiro.


Exploração de novas receitas - A Neo Química Arena pode render muito mais. Eventos, naming rights, ações de relacionamento e experiências premium devem ser exploradas com criatividade. O Corinthians também pode ampliar seu portfólio de licenciamentos e produtos oficiais, além de buscar parcerias estratégicas fora do futebol.


A situação do Corinthians é grave, mas não irreversível. A instituição tem história, torcida e marca suficientes para se recuperar. Mas isso depende de decisões corajosas e, acima de tudo, responsáveis. O clube precisa deixar para trás a cultura do improviso e abraçar a gestão profissional que o cenário atual exige.


A Fiel merece mais do que promessas. Merece um clube sustentável, que conquiste títulos sem se afundar em dívidas. A hora de virar esse jogo é agora. Antes que a bomba-relógio que pulsa no coração do Parque São Jorge exploda de vez.





Roberto Maia é jornalista e cronista esportivo. Escritor e editor do portal travelpedia.com.br


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