O prédio está pronto, mas a nossa convivência não
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O prédio está pronto, mas a nossa convivência não

Por Rodrigo Azevedo


As leis estão postas, mas a interpretação e o respeito a elas não.


Me encanta a ideia de que a nossa convivência poderá sempre ser rediscutida e redefina à luz da nossa própria inteligência. Da inteligência de quem convive. É justo que, tudo o que nos foi entregue pelos nossos antepassados tenha valor, porém o mundo no qual nos toca conviver, nenhum antepassado conheceu. A vida, portanto, não está pronta.


Quem pensa diferente disso, vive em um mundo onde tudo já está posto e dito. Pressentem que tudo o que há para ser decidido, valorado, escolhido já está resolvido. E que é só questão de julgar, a partir de alguma tabela pronta e cheia de valores pré-definidos a fim de comparar e assumir se isto está certo ou se é aquilo que está errado. Nada novo nem de muito diferente pode surgir para abalar o inabalável.

Estamos em um mundo cujos aspectos e atributos mais salientes são inéditos na história. Razão pela qual o certo e o errado da convivência não advêm de verdades “transhistóricas”, mas decorrem da inteligência compartilhada a serviço de uma convivência em aperfeiçoamento.


Portanto, se espanta o indivíduo quando descobre que há novos problemas decorrentes de cada escolha feita. Se afasta, pois acha desgastante ter de decidir. Se aliena, e desta forma deixa para que os demais decidam por ele. E sofre duplamente, tanto por não conhecer os limites impostos que passará a respeitar calado, quanto por não saber que tudo poderia ser diferente do que é.


As leis estão postas, mas a interpretação e o respeito a elas não. Portas, portões, grades e demais barreiras divisórias demarcam o espaço segregando o público e comum daquilo que é privado.


Já os incidentes cotidianos que se transformam em transtornos não conhecem limites. As despesas comuns, necessárias à manutenção, e sua pretensamente justa divisão entre os patrocinadores dos domínios conjuntos (origem da palavra condomínio) não conhece rateio em sua origem. Bem como a poupança de recursos e a finalidade da aplicação destes, seja em melhorias ou na recuperação de algum aspecto já deteriorado do corpo físico da edificação.


Sons altos, cheiros fortes, pancadas nas paredes, ocupação indevida de espaços comuns para finalidade particulares e demais movimentos do mundo exterior em direção ao mundo privado e hermético invadem a vida daqueles que se resguardavam em seu refúgio.


E assim também são as decisões. Elas são tomadas, ou não, por todos os interessados. A política tem a ver com isso. A política tem a ver com a convivência, com a organização da vida em coletivos, a partir da perspectiva de que essa organização não é definida para sempre por ninguém. Mas resulta invariavelmente de disposições, investimentos, engajamentos, e condutas dos seus agentes. A política tem a ver com aquilo que nós pensamos sobre a nossa convivência e que não é absolutamente regido pela nossa natureza. Seria diferente se fôssemos formigas, plantas ou pedras, pois viveríamos a única vida possível para seres absolutamente determinados por sua natureza.


A política é o que há de contingente na nossa convivência. A política é a inteligência a serviço de uma convivência aperfeiçoada nos campos e nas atividades que a inteligência pode transformar. O prédio pode estar pronto, mas nossa convivência não está. Precisa ser construída a cada momento, a cada escolha e interação. O nome disso é política e é atividade exclusivamente humana.


Envie suas dúvidas e sugestões de assuntos para sindico.gestor@gmail.com.br


Rodrigo Azevedo é habilitado pela Assosindicos-SP como Síndico Profissional, exerce a atividade desde 2013. Passou por empresas como Grupo Hitachi e Telefonica / Vivo. Como jornalista focado do setor condominial, ministra cursos e palestras, atendendo clientes em quatro estados. É administrador de empresas, especializado em gestão empresarial.

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