Cartão vermelho para o racismo: O desafio de erradicar essa chaga no futebol sul-americano
- Roberto Maia
- 19 de mar.
- 2 min de leitura
Por Roberto Maia

O futebol sul-americano, reconhecido mundialmente por seu estilo vibrante e pela paixão de seus torcedores, enfrenta uma sombra persistente que mancha sua beleza: o racismo. Os recentes episódios discriminatórios que têm surgido com frequência alarmante nos gramados da região evidenciam uma ferida social profunda que transcende as quatro linhas e reflete problemas estruturais de nossas sociedades.
A recente situação envolvendo Luighi, jovem atleta das categorias de base do Palmeiras, vítima de ofensas racistas durante uma partida da Libertadores sub-20, exemplifica a dimensão deste problema. É especialmente preocupante quando essas manifestações discriminatórias atingem atletas em formação, expondo-os a uma violência psicológica e emocional que pode deixar marcas permanentes. Esta realidade demanda uma resposta firme e imediata das autoridades esportivas.
O caso torna-se ainda mais complexo quando observamos o comportamento de figuras de liderança no cenário futebolístico sul-americano. A declaração do presidente da Conmebol, Alejandro Domínguez, comparando a Copa Libertadores sem times brasileiros a "Tarzan sem a Chita", revela como o racismo estrutural se manifesta de forma sutil e, muitas vezes, não intencional. Comparações que associam pessoas negras a animais carregam um peso histórico de desumanização e perpetuam estereótipos racistas que deveriam estar superados.
É particularmente grave quando tais declarações vêm de representantes de entidades que deveriam estar na linha de frente do combate à discriminação. A Conmebol, como principal órgão regulador do futebol sul-americano, tem a responsabilidade de estabelecer diretrizes claras e punições severas para manifestações racistas. Multas simbólicas e notas de repúdio genéricas já demonstraram ser insuficientes para enfrentar um problema dessa magnitude.

Precisamos de ações concretas: protocolos específicos para identificação e punição de atos racistas, sanções esportivas e financeiras significativas, programas educativos permanentes e campanhas de conscientização que envolvam jogadores, clubes, torcidas e toda a comunidade futebolística. A formação de árbitros, treinadores e dirigentes também deve incluir capacitação para reconhecer e lidar com situações de discriminação racial.
Os clubes, por sua vez, não podem se eximir de sua responsabilidade, limitando-se a declarações de solidariedade quando seus atletas são vítimas. É necessário um trabalho preventivo constante, incluindo cláusulas antirracistas em seus estatutos e políticas de tolerância zero para qualquer manifestação discriminatória.
O futebol, como fenômeno cultural de massa e ferramenta potencial de inclusão social, possui um papel educativo fundamental. Os ídolos do esporte influenciam comportamentos e podem ser agentes transformadores na luta antirracista. Seu posicionamento firme e suas ações concretas têm o poder de inspirar mudanças de mentalidade, especialmente entre os mais jovens.
Para que o futebol sul-americano possa verdadeiramente celebrar sua diversidade e riqueza cultural, é imprescindível que o combate ao racismo seja tratado como prioridade absoluta. Somente assim poderemos ter um esporte que reflita os valores de igualdade, respeito e dignidade humana que almejamos para nossas sociedades.

Roberto Maia é jornalista e cronista esportivo. Escritor e editor do portal travelpedia.com.br
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