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Cartão vermelho para o racismo: O desafio de erradicar essa chaga no futebol sul-americano

Por Roberto Maia


O presidente da Conmebol, Alejandro Domínguez, compara a Copa Libertadores sem times brasileiros como o Tarzan sem a macaca Chita. (Foto: Conmebol/divulgação/conmebol.com/pt-br/)
O presidente da Conmebol, Alejandro Domínguez, compara a Copa Libertadores sem times brasileiros como o Tarzan sem a macaca Chita. (Foto: Conmebol/divulgação/conmebol.com/pt-br/)

O futebol sul-americano, reconhecido mundialmente por seu estilo vibrante e pela paixão de seus torcedores, enfrenta uma sombra persistente que mancha sua beleza: o racismo. Os recentes episódios discriminatórios que têm surgido com frequência alarmante nos gramados da região evidenciam uma ferida social profunda que transcende as quatro linhas e reflete problemas estruturais de nossas sociedades.


A recente situação envolvendo Luighi, jovem atleta das categorias de base do Palmeiras, vítima de ofensas racistas durante uma partida da Libertadores sub-20, exemplifica a dimensão deste problema. É especialmente preocupante quando essas manifestações discriminatórias atingem atletas em formação, expondo-os a uma violência psicológica e emocional que pode deixar marcas permanentes. Esta realidade demanda uma resposta firme e imediata das autoridades esportivas.


O caso torna-se ainda mais complexo quando observamos o comportamento de figuras de liderança no cenário futebolístico sul-americano. A declaração do presidente da Conmebol, Alejandro Domínguez, comparando a Copa Libertadores sem times brasileiros a "Tarzan sem a Chita", revela como o racismo estrutural se manifesta de forma sutil e, muitas vezes, não intencional. Comparações que associam pessoas negras a animais carregam um peso histórico de desumanização e perpetuam estereótipos racistas que deveriam estar superados.


É particularmente grave quando tais declarações vêm de representantes de entidades que deveriam estar na linha de frente do combate à discriminação. A Conmebol, como principal órgão regulador do futebol sul-americano, tem a responsabilidade de estabelecer diretrizes claras e punições severas para manifestações racistas. Multas simbólicas e notas de repúdio genéricas já demonstraram ser insuficientes para enfrentar um problema dessa magnitude.


Luighi, jovem atleta das categorias de base do Palmeiras foi vítima de ofensas racistas durante partida da Libertadores Sub-20. (Foto: Fabio Menotti/Palmeiras)
Luighi, jovem atleta das categorias de base do Palmeiras foi vítima de ofensas racistas durante partida da Libertadores Sub-20. (Foto: Fabio Menotti/Palmeiras)

Precisamos de ações concretas: protocolos específicos para identificação e punição de atos racistas, sanções esportivas e financeiras significativas, programas educativos permanentes e campanhas de conscientização que envolvam jogadores, clubes, torcidas e toda a comunidade futebolística. A formação de árbitros, treinadores e dirigentes também deve incluir capacitação para reconhecer e lidar com situações de discriminação racial.


Os clubes, por sua vez, não podem se eximir de sua responsabilidade, limitando-se a declarações de solidariedade quando seus atletas são vítimas. É necessário um trabalho preventivo constante, incluindo cláusulas antirracistas em seus estatutos e políticas de tolerância zero para qualquer manifestação discriminatória.


O futebol, como fenômeno cultural de massa e ferramenta potencial de inclusão social, possui um papel educativo fundamental. Os ídolos do esporte influenciam comportamentos e podem ser agentes transformadores na luta antirracista. Seu posicionamento firme e suas ações concretas têm o poder de inspirar mudanças de mentalidade, especialmente entre os mais jovens.


Para que o futebol sul-americano possa verdadeiramente celebrar sua diversidade e riqueza cultural, é imprescindível que o combate ao racismo seja tratado como prioridade absoluta. Somente assim poderemos ter um esporte que reflita os valores de igualdade, respeito e dignidade humana que almejamos para nossas sociedades.





Roberto Maia é jornalista e cronista esportivo. Escritor e editor do portal travelpedia.com.br


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