Por Fernando Jorge
Na minha vida de escritor e jornalista fiquei conhecendo todos os tipos de pessoas.
Fui grande amigo de Leonardo Arroyo, redator da Folha de S.Paulo. Ele era um fino gastrônomo e me levava a vários restaurantes. Certa vez, no restaurante de um espanhol, apresentou-me a um italiano de corpo avantajado, do qual também me tornei amigo. Ele me disse, certa vez:
– Não paro de comer. Nasci com um estômago enorme e vivo faminto. Adoro macarronadas, e devoro a feijoada de vocês, brasileiros.
– A sua esposa prepara bem as suas macarronadas e feijoadas?
– Sou solteiro – respondeu com rapidez – e não quero me casar. Mas confesso, se um dia eu encontrar a mulher que faça a felicidade do meu estômago e nem precisa ser felicidade do meu coração, caso-me com ela...
Um dia eu o apresentei a uma amiga minha, mulher de quarenta e sete anos, que era ótima cozinheira. Ele a convidou a ir ao seu apartamento para fazer uma macarronada. A solteirona o atendeu e a partir daí não parou de cozinhar para esse homem de apetite monstruoso, conseguindo fazer o estômago dele sentir-se intensamente feliz.
O casamento do solteirão com a solteirona me convenceu de uma coisa. Um estômago faminto e insaciável é tão poderoso como um coração apaixonado.
Fernando Jorge é jornalista, escritor, dicionarista e enciclopedista brasileiro. Autor de várias obras biográficas e históricas que lhe renderam alguns prêmios como o Prêmio Jabuti de 1962. É autor do livro “Eu amo os dois”, lançado pela Editora Novo Século.
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