Por Roberto Maia
Apesar do seu histórico de conquistas dirigindo o Palmeiras, o treinador Abel Ferreira tem sido voz forte, embora solitária, no combate ao que ele chama de “calendário insano”. Em sua entrevista coletiva no sábado (23), após o Dérbi em que o Verdão atropelou o Corinthians por 2 a 0, o português voltou a comentar sobre o assunto que tanto lhe incomoda.
Se Abel agisse como os demais treinadores de futebol no Brasil, teria aproveitado a convincente vitória sobre o maior rival do Palmeiras para curtir o momento, elogiar sua equipe e garantir mais algum tempo de paz e tranquilidade no cargo que ocupa. Mas não foi o que aconteceu.
Na entrevista coletiva após o jogo na Arena Barueri, Abel Ferreira repetiu o que vem dizendo há algum tempo, e voltou a criticar o calendário do futebol brasileiro. O treinador português reclamou do pouco tempo de descanso entre os jogos e alegou que a sua saúde está comprometida.
E não é à toa suas críticas, já que em pouco mais de três meses, o Palmeiras já disputou três competições: Campeonato Paulista, Recopa Sul-Americana e o Mundial de Clubes para o Chelsea. Logo na sequência já está na disputa de outras três: Campeonato Brasileiro, Libertadores e Copa do Brasil.
Pelos resultados obtidos no Brasil comandando o Verdão, ninguém melhor que Abel Ferreira para criticar o calendário do futebol nacional e dar voz aos demais treinadores que vivem de resultados imediatos e são demitidos após um ou dois jogos com resultados negativos. Ninguém nunca tinha ousado colocar o dedo na ferida como Abel está fazendo de forma corajosa.
Usando a Europa como comparação, Abel tem autoridade para falar sobre o assunto. Ele comentou mais uma vez sobre as dificuldades que a sua equipe enfrenta para se manter na melhor forma física e mental.
“Não temos tempo para treinar e descansar. Preciso cuidar de mim também. Minha saúde está alterada. Aqui é insano, tem que mudar. Não falo só da parte física, mas também da parte mental. Não janto com amigos, não vou ao Carnaval. Tenho que dar treino, analisar treino, analisar adversário e jogar. Tudo isso de dois em dois dias. Só queremos um futebol melhor”, reclamou.
Recentemente, após jogo contra o Santos, o português já havia reclamado do calendário de jogos. Na oportunidade ele disse que a “verdade esportiva não se aplica aqui” e que o calendário “precisa urgentemente ser revisto e de uma reforma”.
Segundo Abel, os clubes também são responsáveis, assim como as entidades que organizam os campeonatos. “Se não pensarmos de forma global, se pensarmos só no dinheiro, vamos ficar sempre sem jogadores. Então, estou sempre batendo nessa tecla: é urgente no futebol brasileiro reformar o calendário”, pediu.
Em outra coletiva após derrota para o Ceará, no Allianz Parque, por 3 a 2, Abel também reclamou e falou sobre o cansaço que os jogadores e ele próprio sentem. “O cansaço vem para todos, não só para os jogadores, sou feito de carne e osso. Nem para festejar o título do Paulistão tivemos tempo, o que é vergonhoso. É uma adrenalina muito grande, intensidade, não tivemos tempo para nos recuperar. Não temos tempo para dar descanso. O problema não é o elenco. O problema maior é da organização”, lamentou.
Abel Ferreira está fazendo o favor de colocar o assunto em pauta. Mas não cabe a ele resolver e dar uma solução para o tema. Muito mais do que reclamar da situação, o treinador está mandando um duro recado para os dirigentes do futebol brasileiro, inclusive ao próprio Palmeiras. São os presidentes dos clubes que precisam sair da zona de conforto e exigir mudanças no calendário do futebol brasileiro.
Roberto Maia é jornalista, cronista esportivo e editor do portal travelpedia.com.br
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