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Abaixo a pornografia!

Por Fernando Jorge


Tenho a fama de ser um escritor e jornalista polêmico. Aqui no Brasil quem é sincero, mostra a verdade, passa a ser considerado polêmico ou louco. Nas minhas críticas nunca desfechei ataques de natureza pessoal, mas procuro sempre me basear nos fatos indiscutíveis. Eu pen­so como o poeta italiano Ippolito Nievo (1832-1861), que colocou esta frase no capítulo IX do livro “Confessioni d’un ottuagenario”:

“A verdade, em toda sua nudez e pobreza, é mais adorável e santa do que a mentira disfarçada e suntuosa". (La veritá, per quanto povera e nuda, èpiù adorabile epiù santa della bugia incamuffata esuntuosa).

Estrela tão bela e resplandecente como a dos Reis Magos, a verdade nos conduz no caminho da retidão moral. Negá-Ia não e só prova de covardia, é também prova de falta de caráter. Os programas brasileiros de televisão, na maioria, são lastimáveis. Estou cansado de ver imundices nesse meio de comunicação que, frequentes vezes, me parece ser um meio de imbecilização.


A imprensa, de vez em quando, denuncia as safadezas da TV. No ano de 1998, por exemplo, a "Folha de S.Paulo" revelou o esquema das histórias fictícias para o programa do Ratinho, do SBT. Em troca de cachês de 80 a 150 reais, alguns atores, nesse programa, desempenhavam papeis falsos, fingiam estar participando de situações dramáticas.


João Kleber me enojou em 2001, devido a sua maneira de apresentar na TV um rapaz que garantiu achar-se apaixonado por outro rapaz. Após obrigá-lo a se vestir de mulher, o João Kleber lhe fez as seguintes perguntas:

-Foi rala-e-rola dos dois? Vocês agiram como ativos e passivos?


O mesmo João Kleber, em 2002, exibiu um homem que havia sido acusado pela esposa de ser impotente. Esse fulano, diante do auditório e de milhões de telespectadores, abaixou a calça, a fim de “eliminar qualquer dúvida a respeito do funcionamento do seu maravilhoso órgão sexual.”­


Marcia Goldschmidt, no programa “Jogo da vida”, da TV Bandeirantes, transformou em artista de show um garoto muito doente, cheio de escamas, e que precisava viver numa banheira. Ele sofria de "pênfigo foliáceo”, moléstia também conhecida pelo nome de “fogo selvagem", dermatose de evolução crônica, cujo principal sintoma é o aparecimento extremamente doloroso de pústulas, de grupos de bolhas, de escamas sangrentas. A vítima do “fogo selvagem” experimenta a sensação de estar sendo queimada pelas labaredas do Inferno.


Recebi outro impacto da Márcia Goldschmidt, no momento em que ela explorou a tristeza mórbida de uma senhora. Essa senhora vivia angustiada por ter perdido um filho e carregava os seus ossos numa caixa de papelão. Como possessa, a Márcia esgoelou-se na frente dos telespectadores.


Asqueroso programa de TV é o “Big-Brother Brasil”. No meu entender, ele é a propaganda do erotismo e da vagabundagem. Durante cerca de três meses os participantes vegetam numa casa. Ficam sem trabalhar, não fazem nada de útil. Comem, bocejam, dormem, acordam, nadam na piscina, vagueiam pelos quartos, soltam palavras inexpressivas. Alguns discutem, gargalham, choram, trocam beijos ou se grudam como sapos e pererecas no cio.


Que programa chato, idiota, quanta perda de tempo! E que mau exemplo! A TV Globo podia acabar com o “Big-Droga Brasil” e doar o dinheiro ali desperdiçado a uma creche, a uma escola, a uma favela ou a um hospital público.


Fernando Jorge é jornalista, escritor, historiador, biógrafo, crítico literário, dicionarista e enciclopedista brasileiro, Autor de várias obras biográficas e históricas que lhe renderam alguns prêmios como o Prêmio Jabuti de 1962. Sua obra mais recente é a biografia "As lutas, a glória e o martírio de Santos Dumont", lançado pela HaperCollins.

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