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A vergonha das simulações no futebol brasileiro

Por Roberto Maia


Assistindo aos jogos da rodada do Brasileirão da Série A no último final de semana, não pude conter minha irritação diante do espetáculo lamentável que se tornou o futebol brasileiro. O que deveria ser uma exibição de talento e habilidade transformou-se em um circo de simulações e teatralidades que mancham a reputação do nosso esporte mais querido.


Embora vítima de muitas faltas desleais, Neymar Jr. ficou marcado pela fama de simular agressões na tentativa de enganar a arbitragem (Foto: Lucas Figueiredo/CBF)

É revoltante ver atletas profissionais, supostamente no auge de sua forma física, se prestando a papéis tão ridículos. A cada lance disputado, somos obrigados a testemunhar quedas exageradas, gritos de dor teatrais e gestos dramáticos que fariam inveja a qualquer ator de novela. O pior é que essas cenas absurdas muitas vezes passam despercebidas pelos árbitros em campo, que parecem incapazes de distinguir entre uma falta legítima e uma encenação descarada.


O uso do VAR (Árbitro de Vídeo), que deveria ser uma ferramenta para garantir a justiça no jogo, acaba se tornando cúmplice dessas artimanhas. É frustrante ver o jogo ser interrompido para analisar essas tentativas óbvias de enganar a arbitragem, e mais frustrante ainda é quando os árbitros do VAR são ludibriados por essas performances dignas de Oscar.


Não posso deixar de pensar que essas simulações estão mudando os resultados dos jogos de forma injusta. Há momentos em que suspeito que essa prática seja até incentivada internamente por diretores e treinadores, visando obter vantagens a qualquer custo. E o que dizer dos torcedores? A hipocrisia reina quando se trata do time do coração. Reclamam aos berros quando são prejudicados, mas fazem vista grossa quando seus ídolos se beneficiam desses teatrinhos vergonhosos.


Olhando para a Europa, vejo um cenário completamente diferente. Lá, a simulação é tratada com a seriedade que merece. Há mais de uma década, jogadores flagrados tentando enganar o árbitro são punidos exemplarmente, chegando a ser suspensos por até três jogos. Enquanto isso, no Brasil, parecemos estar na contramão, permitindo que essas práticas antiéticas floresçam e se tornem cada vez mais comuns.


Lembro de casos como o de Rodrigo Caio, em 2017, durante um clássico entre São Paulo e Corinthians. Ao ver o centroavante Jô do Timão ser injustamente punido por uma falta que ele mesmo havia cometido involuntariamente, o zagueiro são-paulino teve a integridade de informar o árbitro sobre o equívoco. Sua atitude, porém, foi recebida com críticas pelos próprios torcedores do Tricolor, o que demonstra o quanto nossa cultura futebolística se distorceu.


Rodrigo Caio: O ex-zagueiro do São Paulo expressou o verdadeiro “fair play” no futebol quando, em 2017, corrigiu erro do árbitro a favor do seu time em jogo contra o Corinthians (Foto: Rubens Chiri/saopaulofc.net)

Outro exemplo inspirador vem do ex-jogador alemão Aaron Hunt, que teve a coragem de admitir que havia simulado um pênalti, levando o árbitro a anular a marcação. Essas atitudes deveriam ser a norma, não a exceção. É triste constatar que, no cenário atual do futebol, agir com ética e integridade é visto como algo extraordinário.


As consequências dessas simulações vão além do resultado imediato dos jogos. Elas corroem a essência do “fair play” (jogo limpo, em português), aumentam a tensão entre equipes e torcidas, e podem levar a confrontos desnecessários dentro e fora de campo. Além disso, essa prática mancha a imagem do futebol brasileiro internacionalmente, fazendo com que nossos jogadores sejam vistos com desconfiança em outras ligas.


É hora de tomarmos uma atitude. Precisamos de medidas mais rigorosas por parte das autoridades do futebol brasileiro para coibir essas práticas. Punições severas, como suspensões e multas, devem ser aplicadas aos jogadores flagrados em simulações. Além disso, é fundamental um trabalho de conscientização desde as categorias de base, para que os futuros profissionais entendam a importância da integridade no esporte.


Como torcedor apaixonado, quero ver o futebol brasileiro voltando a ser reconhecido pela sua qualidade técnica, criatividade e jogo limpo. Não podemos permitir que o "jeitinho" e a malandragem continuem manchando a beleza do nosso futebol. É tempo de resgatar os valores do esporte e fazer com que o talento, e não a trapaça, seja o que decide as partidas em nossos gramados.





Roberto Maia é jornalista e cronista esportivo. Escritor e editor do portal travelpedia.com.br


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