Por Rodrigo Azevedo
A tendência daquilo que está frágil, com o tempo, é deteriorar. A vida moderna, pródiga em criar facilidades, também parece haver evoluído nos quesitos que nos desafiam. A solidão, as dificuldades de relacionamento, dinheiro, trabalho, saúde. Enfim, quando tudo parece evoluir, até as dificuldades ganham força.
Viver e trabalhar em condomínios é uma escola. Aprendemos a nos relacionar, muito de perto, com pessoas e grupos tão diferentes de nós. E um dos aspectos que podem ajudar ou dificultar a convivência, mas nem sempre é considerado, é justamente a nossa saúde mental. Nem toda malcriação é questão de personalidade ou ignorância. Muitas são, mas de novo, nem todas.
No início a ideia de pandemia, até então desconhecida para a maioria nós, trazia consigo uma aura de oportunidade de crescimento pessoal. Ouvi muitas vezes que sairíamos melhores do outro lado deste processo. Mais humanos, melhores como cidadãos e mais capazes de colaborar uns com os outros, ao invés de simplesmente competir. Entramos no furacão com medo, mas em certa medida esperançosos.
Se era preciso um desafio que mudasse nossa percepção de mundo e até nos motivasse a sermos melhores, o destino caprichou. Foram dificuldades econômicas, de saúde, de relacionamento (tantos foram os casais que se separaram na pandemia) e as perdas de tantas pessoas importantes.
A pandemia nem acabou, pelo contrário, vem crescendo. Melhor que seja com uma variante menos perigosa para os vacinados, como parece ser o caso da Ômicron. E, mesmo em meio à opressão da escuridão, parece que começamos a ver luz do outro lado.
Mas e o tal do crescimento, para onde foi? Não vejo muita mudança social por aí... Pioramos aqui? Melhoramos ali? Fica para o leitor a reflexão.
O que posso afirmar é que, cada vez mais a saúde mental é assunto presente nas nossas reflexões sobre como devemos levar as nossas vidas. Confrontar a ideia de “oportunidade de crescimento pessoal por meio de uma situação desafiadora”, com o cenário de aperto em que vivemos nos últimos dois anos nos mostrou que o buraco é mais embaixo.
As dificuldades eram certas, mas a ideia de que o processo de pandemia seria uma chance para crescermos não considerou o sentido emocional e psicológico de quem vive nas grandes cidades, em meio a tantos perigos e dificuldades, tão espremidos e próximo dos vizinhos, como é o caso dos condomínios.
Passamos a trabalhar em casa e a quase não mais sair de casa. Cada barulho ficou mais alto, cada cheiro mais insuportável, e a intolerância entre nós parece haver multiplicado. E quem já estava frágil antes de tudo isso, naturalmente viu seu estado deteriorar. Precisamos nos cuidar, mas também cuidar daquilo que é comum a todos. A saúde mental é fundamental. Ignorar esse aspecto da convivência é desaprender a (com)viver.
Rodrigo Azevedo é habilitado pela Assosindicos-SP como Síndico Profissional, exerce a atividade desde 2013. Passou por empresas como Grupo Hitachi e Telefonica / Vivo. Como jornalista focado do setor condominial, ministra cursos e palestras, atendendo clientes em quatro estados. É administrador de empresas, especializado em gestão empresarial.
תגובות