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A moça que quis me namorar por causa de minha feiura e de minha magreza

Por Fernando Jorge


Existem vários tipos de amor, ele é um sentimento de natureza complexa. O coração de quem ama possui temperatura quente, solta labaredas, fumaça, ou temperatura moderada, algo morna, ou temperatura normal, que às vezes pode ficar muito quente, dependendo da ocasião, das circunstâncias.


Há os que amam uma só vez na vida. É o caso de Machado de Assis, o nosso grande escritor, que ao longo de toda sua existência só amou a esposa, a portuguesa Carolina. Após a morte dela, muito emocionado, dedicou-lhe uma bela poesia, um soneto cujo começo é assim:


“Querida, ao pé do teu leito derradeiro, aqui virei, e virei pobre, querida, trazer-te o coração do companheiro...”


Mas há também os casos das pessoas incapazes de amar uma só pessoa. Foi o que acontecia com o poeta Vinicius de Moraes, que na sua voraz gula de amar as mulheres, mostrava-se insaciável, sempre faminto. Já maduro, sentiu-se fortemente atraído por uma jovem argentina, e namorou-a, e foi correspondido. Devido ao guloso coração faminto e insaciável de Vinicius de Moraes, o seu biógrafo José Castello o chamou de “Poeta da Paixão”.


E eu, Fernando Jorge? Antes de conhecer a minha futura esposa, aconteceu que uma jovem muito bonita quis me namorar. Como sou sincero, bem franco, eu lhe disse:


– Desculpe-me, não me sinto atraído por você. Além disso sou feio, magrelo, escolha, para combinar com você, um rapaz bonito.


Resposta imediata da moça:


– Eu sei, você não é bonito, mas me sinto atraída por homens feios. Homens bonitos me dão a impressão de serem mulheres. E além de feio, você, Fernando, parece ser doente, um tuberculoso. Gosto da sua cara de doente, da sua magreza de tuberculoso.


Surpreso, eu lhe dei este conselho:


– Desculpe-me, você é desequilibrada, consulte logo um psiquiatra.


Resposta imediata:


– Não, Fernando, não posso fazer isto porque adoro, simplesmente adoro a minha tara.



Fernando Jorge é jornalista, escritor, dicionarista e enciclopedista brasileiro. Autor de várias obras biográficas e históricas que lhe renderam alguns prêmios como o Prêmio Jabuti de 1962. É autor do livro “Eu amo os dois”, lançado pela Editora Novo Século.

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