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A mãe é que deveria ter sido jogada no lixo e não o seu filho

Foto do escritor: Fernando JorgeFernando Jorge

Por Fernando Jorge

Imagem: Freepik

Dias atrás, em Londres, os empregados da limpeza pública acharam um garotinho no lixo. A cidade inteira comoveu-se. Pobre inocente! Que mãe monstruosa, degenerada, cometeu o ato infame? Decerto deve ser uma mulher desprovida de sentimentos. As feras bravias, carniceiras, são incapazes de procederem assim, de maneira tão sórdida.


Semelhante vileza é inclassificável. Muitos, indignados, quiseram conhecer o nome da mãe desnaturada. Que adianta? Um ser desses é uma aberração hedionda, causa repugnância indizível, envergonha a espécie humana.


Uma pedra talvez possua mais alma que essa progenitora de coração gelado.

Ela se identifica com Sila, o inclemente déspota romano, homem a tal ponto cruel que se “deparasse a Piedade no seu caminho, tentaria estrangulá-la...”


Criaturas iníquas ainda infestam o planeta, apesar de toda evolução espiritual. Há milênios a Besta procura vencer o Anjo, auxiliada pela malta iconoclasta dos entes maléficos. Todavia, as hostes pacíficas de Ariel, nas quais se enfileira Stephenson, Marconi, Pascal, Ghandi, vem derrotando as tropas sanguinosas, aguerridas, de Átila, Gengis Khan, Nero e Marat.


A bruxa que atirou o fruto das suas entranhas na sujeira pertence à deletéria família dos anormais, dos indivíduos que violaram o código da natureza.

Ivã, o terrível, o desvairado imperador russo, teve motivo, quem sabe, para assassinar, com as mãos tenebrosas, o próprio filho. Mas essa mãe que razão pode apresentar?


Não exagero. Ao pensar nela só posso evocar os criminosos desalmados. Às vezes, Deus me perdoe, julgo cabível a aplicação da pena de talião, a do olho por olho, dente por dente. A mãe é que deveria ter sido jogada no lixo e não o seu filho, afirmo e reafirmo.


Fernando Jorge é jornalista, escritor, dicionarista e enciclopedista brasileiro. Autor de várias obras biográficas e históricas que lhe renderam alguns prêmios como o Prêmio Jabuti de 1962. É autor do livro “Eu amo os dois”, lançado pela Editora Novo Século.

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