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A era Augusto Melo no Corinthians: da esperança ao impeachment

Por Roberto Maia


A noite de 26 de maio de 2025 marcou o fim de mais um capítulo conturbado na história centenária do Sport Club Corinthians Paulista. Com 176 votos favoráveis contra 57 contrários, o Conselho Deliberativo aprovou o impeachment de Augusto Melo, encerrando uma gestão que prometia revolução, mas entregou turbulência.


Augusto Melo teve gestão de 17 meses encerrada após impeachment aprovado no Conselho Deliberativo. Promessas de "choque de gestão" e transparência não se concretizaram. (Foto: Jozzu/Agência Corinthians)
Augusto Melo teve gestão de 17 meses encerrada após impeachment aprovado no Conselho Deliberativo. Promessas de "choque de gestão" e transparência não se concretizaram. (Foto: Jozzu/Agência Corinthians)

Quando assumiu em janeiro de 2024, Augusto Melo chegou com o discurso sedutor do "choque de gestão". Prometeu modernização administrativa, transparência radical e, principalmente, uma solução definitiva para o pesadelo financeiro do clube. A torcida, cansada de gestões anteriores desastrosas, abraçou o projeto com esperança renovada.


O problema é que entre promessas eleitorais e a realidade da administração de um gigante endividado existe um abismo. As "novas receitas" nunca se materializaram na escala anunciada.


Se existe um momento que sintetiza a gestão Melo, foi a conquista do Campeonato Paulista de 2025 sobre o Palmeiras. O título trouxe alívio momentâneo e legitimidade esportiva, mas também mascarou problemas estruturais que continuavam se agravando nos bastidores.


A vitória sobre o maior rival criou uma falsa sensação de que o projeto estava no caminho certo. Porém, um título estadual, por mais simbólico que seja, não resolve dívidas de centenas de milhões nem estabelece um modelo sustentável de gestão.


O que mais chama atenção na queda de Augusto Melo foi a velocidade com que perdeu credibilidade. As auditorias prometidas foram divulgadas de forma parcial e contestável. A comunicação, inicialmente um ponto forte, virou fonte de ruído com declarações desencontradas e promessas não cumpridas.


A venda de jovens talentos da base continuou sendo prática recorrente, mas sem a transparência prometida. A torcida organizada, que inicialmente apoiou a gestão, retirou o apoio e passou a protagonizar protestos, cobrando resultados e responsabilidade.


O golpe final veio com o indiciamento de Augusto Melo e outros diretores por causa de comissões pagas a intermediário no contrato de patrocínio com a Vai de Bet. O episódio simbolizou tudo aquilo que o presidente prometeu combater: falta de transparência e práticas questionáveis na gestão.


Ironicamente, na mesma semana do impeachment, o Corinthians vivia um momento de alegria esportiva com a convocação do goleiro Hugo Souza para a Seleção Brasileira por Carlo Ancelotti. Mas nem mesmo boas notícias conseguiam mais salvar uma gestão em frangalhos.


A gestão Augusto Melo ensina que discursos inflamados e promessas grandiosas não substituem competência técnica e planejamento estratégico. O Corinthians precisa de gestores que entendam a complexidade de administrar um clube com as dimensões e desafios do Timão.


Hugo Souza foi convocado por Carlo Ancelotti para a Seleção Brasileira no mesmo dia em que o clube vivia a crise do impeachment de Augusto Melo. (Foto: Raphael Martinez/Agência Corinthians)
Hugo Souza foi convocado por Carlo Ancelotti para a Seleção Brasileira no mesmo dia em que o clube vivia a crise do impeachment de Augusto Melo. (Foto: Raphael Martinez/Agência Corinthians)

O fato de Melo ter prometido "lutar até o fim" na Assembleia Geral demonstra desconexão com a realidade. Com 176 votos contrários, o resultado reflete não uma "palhaçada" – como definiu o ex-presidente –, mas o veredicto de conselheiros que viram de perto os danos causados.


Mais uma vez, o Corinthians se vê diante da necessidade de recomeçar. A lição mais amarga é que a paixão da Fiel, por maior que seja, não é suficiente para superar os complexos desafios da gestão moderna de um clube de futebol.


Augusto Melo ainda pode voltar à presidência se essa for a vontade dos associados do clube, porém ele ou seja quem for o próximo presidente herdará não apenas dívidas financeiras, mas também um ambiente de desconfiança e instabilidade institucional. Será preciso mais do que promessas para reconquistar a credibilidade perdida.


A história do Corinthians é marcada por superações, mas também de lições amargas sobre os perigos do amadorismo disfarçado de inovação.





Roberto Maia é jornalista e cronista esportivo. Escritor e editor do portal travelpedia.com.br


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