A era Augusto Melo no Corinthians: da esperança ao impeachment
- Roberto Maia
- 30 de mai.
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Por Roberto Maia
A noite de 26 de maio de 2025 marcou o fim de mais um capítulo conturbado na história centenária do Sport Club Corinthians Paulista. Com 176 votos favoráveis contra 57 contrários, o Conselho Deliberativo aprovou o impeachment de Augusto Melo, encerrando uma gestão que prometia revolução, mas entregou turbulência.

Quando assumiu em janeiro de 2024, Augusto Melo chegou com o discurso sedutor do "choque de gestão". Prometeu modernização administrativa, transparência radical e, principalmente, uma solução definitiva para o pesadelo financeiro do clube. A torcida, cansada de gestões anteriores desastrosas, abraçou o projeto com esperança renovada.
O problema é que entre promessas eleitorais e a realidade da administração de um gigante endividado existe um abismo. As "novas receitas" nunca se materializaram na escala anunciada.
Se existe um momento que sintetiza a gestão Melo, foi a conquista do Campeonato Paulista de 2025 sobre o Palmeiras. O título trouxe alívio momentâneo e legitimidade esportiva, mas também mascarou problemas estruturais que continuavam se agravando nos bastidores.
A vitória sobre o maior rival criou uma falsa sensação de que o projeto estava no caminho certo. Porém, um título estadual, por mais simbólico que seja, não resolve dívidas de centenas de milhões nem estabelece um modelo sustentável de gestão.
O que mais chama atenção na queda de Augusto Melo foi a velocidade com que perdeu credibilidade. As auditorias prometidas foram divulgadas de forma parcial e contestável. A comunicação, inicialmente um ponto forte, virou fonte de ruído com declarações desencontradas e promessas não cumpridas.
A venda de jovens talentos da base continuou sendo prática recorrente, mas sem a transparência prometida. A torcida organizada, que inicialmente apoiou a gestão, retirou o apoio e passou a protagonizar protestos, cobrando resultados e responsabilidade.
O golpe final veio com o indiciamento de Augusto Melo e outros diretores por causa de comissões pagas a intermediário no contrato de patrocínio com a Vai de Bet. O episódio simbolizou tudo aquilo que o presidente prometeu combater: falta de transparência e práticas questionáveis na gestão.
Ironicamente, na mesma semana do impeachment, o Corinthians vivia um momento de alegria esportiva com a convocação do goleiro Hugo Souza para a Seleção Brasileira por Carlo Ancelotti. Mas nem mesmo boas notícias conseguiam mais salvar uma gestão em frangalhos.
A gestão Augusto Melo ensina que discursos inflamados e promessas grandiosas não substituem competência técnica e planejamento estratégico. O Corinthians precisa de gestores que entendam a complexidade de administrar um clube com as dimensões e desafios do Timão.

O fato de Melo ter prometido "lutar até o fim" na Assembleia Geral demonstra desconexão com a realidade. Com 176 votos contrários, o resultado reflete não uma "palhaçada" – como definiu o ex-presidente –, mas o veredicto de conselheiros que viram de perto os danos causados.
Mais uma vez, o Corinthians se vê diante da necessidade de recomeçar. A lição mais amarga é que a paixão da Fiel, por maior que seja, não é suficiente para superar os complexos desafios da gestão moderna de um clube de futebol.
Augusto Melo ainda pode voltar à presidência se essa for a vontade dos associados do clube, porém ele ou seja quem for o próximo presidente herdará não apenas dívidas financeiras, mas também um ambiente de desconfiança e instabilidade institucional. Será preciso mais do que promessas para reconquistar a credibilidade perdida.
A história do Corinthians é marcada por superações, mas também de lições amargas sobre os perigos do amadorismo disfarçado de inovação.

Roberto Maia é jornalista e cronista esportivo. Escritor e editor do portal travelpedia.com.br
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